Estou escrevendo este texto na exata hora em que a Terra vive uma espécie de blecaute. Se tivesse que comparar com algum evento um pouco mais peculiar, diria que um asteroide caiu sem um aviso sequer e que isso nos deixou incomunicáveis – o pior, a nível global. Posso até parecer exagerado, mas confesso que acredito estar sendo deveras tímido na forma de falar a notícia do momento: o WhatsApp saiu do ar.
Eu disse que era um evento. Há mais de horas (sim, eu disse horas em um mundo descartável onde a maioria das coisas dura poucos minutos) o maior aplicativo de mensagens está enfrentando problemas e ninguém tem uma previsão de retorno. Não o bastante, realmente parece que estamos vivendo o fim dos tempos porque o Instagram e o Facebook também estão inacessíveis. Aposto que em algum lugar do mundo – talvez não tão longe – alguém chora pelo luto temporário.
Tudo isso é desesperador. E eu nem digo o fato de as maiores redes sociais estarem fora do ar, e sim a certeza que essa pane nos traz: somos todos reféns. Viver um turno (até agora) incomunicáveis já é o suficiente para atestar que precisamos inevitavelmente das tecnologias, seja para o que for – dos vídeos de piadas que recebemos no grupo de família, até o cliente prestes a fechar negócio que perdemos devido ao apagão. De repente, o silêncio é um misto: não se sabe se é bem-vindo (como uma espécie de alívio), não se sabe se é motivo de pânico (seria a revolução das cartas?!). Em 2021, um celular que não vibra é como uma geladeira que não refrigera. Pra não chamar de inútil, eu diria no mínimo estranho.
A mesma geração que colocava papel celofane na frente da tevê para vê-la colorida precisou se acostumar com a possibilidade de enviar uma mensagem que é recebida em tempo real do outro lado do mundo. Nem posso dizer que foi pouco a pouco, porque tão rápido nos acostumamos às notificações ao longo do dia. A tela piscando ao trazer um novo aviso serve como uma muleta à lembrança de que estamos vivos: alguém está se comunicando conosco o tempo todo, nem que seja a notificação do aplicativo de delivery oferecendo cupom de desconto.
Não quero ser hipócrita. O WhatsApp é, provavelmente, a invenção dos últimos tempos. Cortamos caminhos para agilizar processos e mantemos vínculos que talvez fossem esquecidos pela dificuldade em estar conectado ao outro fisicamente. Porém, como para todas as coisas, os extremos é que pesam e a falta de um controle de frequência é o que dita a nossa rotina. Como eu escrevi em uma crônica publicada aqui no jornal lá em 2016, “estamos sempre disponíveis”. E por falar em tempos de outrora (a escolha dessa palavra foi proposital), alguém aí lembra de quando a internet era discada?!
Estou pensando nos casais que vão ter que conversar durante o jantar de hoje. Olho no olho, sabe? Eu sei, surreal. Quem sabe a gente até preste mais atenção no filme que assistirmos, sabe-se lá até quando estaremos sem tantas distrações paralelas. Talvez as trocas sejam mais genuínas, nem que seja por um dia. E ah, sim... Na hora de dormir, o silêncio intimidador e um pouco desconfortável: o celular na cabeceira, quieto, sem tanta utilidade assim... Tudo exatamente como sempre deveria ser.