Ainda lembro da primeira vez que assisti uma palestra da escritora Martha Medeiros. Eu estava na escola e ela abordava os temas trazidos nas crônicas de Coisas de vida, livro seu que havíamos trabalhado. Permaneci o tempo todo em silêncio por pura vergonha, mas anos depois tive a sorte de estar em outro encontro com Martha para enfim fazer as perguntas que queria quando era mais jovem. Em meio a tudo que absorvi, um fato martelou minha mente durante muito tempo: dentre tantos livros publicados, a escritora gaúcha creditou as vendas de Feliz por nada à busca incansável das pessoas pela felicidade simples.
“É um título que vende” – não sei se a frase foi bem assim, mas a ideia foi essa. Martha disse que as pessoas que não estão muito acostumadas à leitura acabam comprando sem pensar tanto um livro onde alguém está “feliz por nada”, já que no fundo elas querem poder sentir o mesmo. E só eu sei como essa informação foi relevante naquele momento para mim e como perdurou durante tantos anos até hoje. Desde então, foram diversas as vezes em que me questionei o porquê de não aceitarmos, de uma vez por todas, que já somos felizes.
Isso mesmo. Já somos felizes.
Sem demagogia: a felicidade é presente. Nos dois sentidos possíveis da sentença.
A felicidade está aqui, ela pode ser ou não ser palpável (vai depender dos seus valores e crenças), e principalmente, ela é agora. Somos felizes, e negar isso seria um absurdo. As adversidades talvez sejam uma forma de atrapalhamento, onde o foco em enxergar as coisas boas acaba sendo desviado, mas não deixamos de ser totalmente felizes porque acreditamos que, sim, tudo ainda pode virar e reencontraremos o tal ponto de paz que nos mantém equilibrados e tranquilos.
A paz e a serenidade de fato não são constantes, uma vez que os desafios aparecem porque é nossa missão enfrentá-los. Mas nesse jogo de busca implacável, esquecemos do básico. Pode parar e se perguntar: quando foi a última vez que você se sentiu feliz por você?
Exatamente hoje, no agora em que vivo, posso dizer que sou feliz por mim. Estou satisfeito com minhas decisões, sentei para ter uma conversa séria com os meus erros, perdoei os que já foram, e tiro o protagonismo de quem tanto fez e de quem tanto faz. São trancos e barrancos, sim, mas são vitórias e conquistas – tem o carro próprio ou o emprego dos sonhos, é claro, mas também tem o autoamor e a autorresponsabilidade. Ainda tem a franqueza, a delícia e a redenção de poder (enfim e tão necessariamente) admitir: hoje eu sou feliz por mim.