Desculpe o drama, mas eu odeio azeitonas. E vou usá-las de exemplo porque na semana passada eu pedi uma pizza de calabresa por aplicativo e, para a minha surpresa, ela veio coberta de azeitonas. É claro que isso nem chega a ser um problema, até porque eu não precisei de muito tempo para me livrar delas (e jamais deixaria de comer a pizza só por causa disso). Entretanto, mesmo me desfazendo de uma a uma, o resultado foi um sabor totalmente diferente do esperado: zero calabresa. Grudado na língua, só o gosto das azeitonas.
Chame de frescura se quiser. E mesmo que seja, a decoração da minha pizza foi o suficiente para me fazer pensar que estamos repletos de pessoas e situações "azeitona". Sendo mais literal, estou me referindo àquelas pessoas ou momentos que acabam se tornando protagonistas sem nem pedir permissão. E é claro que boa parte dessa culpa acaba sendo nossa.
Quando um problema aparece, é natural que a gente dedique grandes esforços para driblar o que tiver acontecendo, na tentativa de resolver tudo o quanto antes. Nem sempre é tão simples, até porque, aquilo que deveria ser apenas um contratempo (inerente aos que estão vivos), transforma-se em um caos irremediável. Eis que surge a "situação azeitona": ela deixa de ser coadjuvante e assume um protagonismo que não é seu.
Escutei em algum lugar que alguém só entra em nossas vidas se existe abertura, assim como só permanece se encontra espaço. E é exatamente sobre isso: precisamos sim impor limites para os nossos próprios tumultos internos (que sejam todos apenas baguncinhas passageiras), mas também deixar claras as fronteiras para aquelas pessoas que nos ladeiam (precisamos nos permitir a ideia de pensarmos exclusivamente em nós mesmos de vez em quando).
Quis pedir reembolso para a pizzaria. Quer dizer, eu teria dado menos gasto ao restaurante se a pizza de calabresa viesse só com calabresa, sem o detalhe das azeitonas! Eles deveriam colocar na descrição do sabor, não? E se eu fosse alérgico a azeitonas?! Tá, tá... Desculpe o drama. Se não fossem as benditas das azeitonas na minha janta daquela noite, talvez eu nunca pensasse sobre tudo isso. E tem vezes que é bem assim, né? Precisamos possibilitar o protagonismo uma única vez para saber que, dali em diante, azeitonas nunca mais.