Certa vez escrevi em um livro a seguinte frase, logo na primeira página: “Vai em frente, nós nunca estaremos prontos mesmo”. Lembrei dela recentemente, quando me dei conta de que poderia aplicá-la em diferentes contextos. Foi aí que passei a me questionar o que seria esse momento, quer dizer, o que significa sentir-se pronto?
Refletindo um pouco sobre, talvez exatamente hoje eu acredite que nós só estamos prontos quando estamos morrendo de medo. Mas não aquele medo impeditivo, e sim aquele que faz cócegas e ao mesmo tempo nos motiva: vai. Do jeito que for.
Lembro que lá atrás já discuti em sala de aula durante um debate sobre quando um escritor se torna escritor. É quando ele escreve um livro? Quando o publica? Quando alguém passa a ler o que ele escreveu? Da mesma forma, a pergunta se encaixa para qualquer profissão: quando um padeiro se torna padeiro? Quando ele aprende como se faz um pão? Quando ele o vende? Quando alguém volta todos os dias para comprar?
Demorei bastante tempo para falar em voz alta e clara: sou escritor (principalmente quando você vai a uma consulta e perguntam a sua profissão, sabe?). Eu já tinha livros publicados, leitores fiéis, e até mesmo uma renda. Entretanto, escutei diversas vezes ao meu redor que eu tinha começado muito jovem. E a opinião sempre chegou em um tom passivo-agressivo, como se eu tivesse que ter tido um tempo maior de maturação; como se eu tivesse que ter esperado. E quem é que gosta de esperar?
É claro que vou amadurecer. É claro que de 2011 para cá amadureci. Mas qual seria a história contada nessa lacuna de dez anos se eu tivesse simplesmente optado por esperar?
Inegável constar aqui que sou fruto de uma geração atropeladamente ansiosa e imediatista. Assim como também sou fruto de uma geração disruptiva, a qual entende que o momento é agora – do jeito que for, com as ferramentas que tivermos, da melhor maneira que pudermos operar. Mas precisa acontecer. Até porque, a vontade de imprimir a nossa marca no mundo é urgente e, principalmente, inadiável. E com os anos ela pode ser lapidada e evoluída. Mas de uma forma ou outra, terá existido desde o primeiro dia em que deixamos de imaginar e passamos a agir. Exemplificando mais ainda, de que serviriam os estágios, se só decidíssemos atuar nas profissões quando estivéssemos “prontos”? Quem é que esteve pronto algum dia, afinal?
A caminhada é a história impossível de apagar. As experiências positivas e negativas são o aprendizado. Os sucessos e conquistas, as frustrações e derrotas, são a prova de que vivemos – no sentido literal da palavra. Fizemos algo sem ter o conhecimento absoluto, até porque nós nunca vamos ter. Arriscamos mesmo sem saber se era o certo, até porque nós nunca vamos saber. E seguimos, mesmo sem nos considerarmos totalmente preparados, até porque nós nunca estaremos prontos.