“Ai, meu Deus, um eclipse solar em conjunção com Mercúrio retrógrado em Áries nesta segunda! Ih, o asteroide Quíron também estará envolvido, agora é a terceira guerra, o fim de tudo se aproxima! Senhor, vai ter escuridão total nos Estados Unidos, é a sombra do apocalipse!” Em outros tempos, esse sensacionalismo astrológico seria somente coisa de místicos alucinados, mas agora, em tempos de redes virtuais e canais de desinformação, o clima é de quase histeria. Pobre astrologia: nunca tão divulgada e acessível e nunca também tão maculada pela irresponsabilidade de quem a manipula somente para ganhar curtidas. Haja apocalipse na pauta dessa gente.
Não quero dizer que certas configurações celestes, conforme a linguagem simbólica da astrologia, não carreguem potenciais de tensão e dificuldade, causando certas preocupações. Eu mesmo fico pesaroso com alguns ângulos que os planetas no presente vão fazendo com as posições que ocupavam em meu mapa de nascimento. Mas sem dramas: não foi para gerar medo e ansiedade que este conhecimento milenar foi aperfeiçoado por tantas contribuições culturais. Se a palavra cosmos significa ordem, e se a astrologia é o estudo dos ciclos cósmicos em suas manifestações terrestres, não faz sentido usar a astrologia para disseminar o caos. Ela deve ser uma arte a serviço da conquista da ordem.
E a ordem celeste revela uma cíclica repetição de temas. É quando podemos estudar os possíveis efeitos de dada configuração relacionando-a com suas últimas ocorrências. A depender do astro envolvido, certas posições se tornam raras. Já os eclipses, resultantes dos alinhamentos entre o Sol e a Lua, ocorrem quatro vezes por ano, sendo dois lunares e dois solares. Quanto a Mercúrio, fica em aparente movimento retrógrado por cerca de três semanas a cada três meses. Sim, um eclipse que alinhe-se a Mercúrio retrógrado pode aumentar o efeito de confusão nas comunicações e muita impetuosidade, por ocorrer no signo de Áries. Mas até isso servir de estopim para desgraças pessoais ou catástrofes planetárias vai uma distância enorme.
E mesmo que algumas configurações celestes soem tensas e “pesadas”, pelos astros ou ângulos envolvidos, o manejo delas na vida pessoal sempre vai depender da consciência que temos dos temas relacionados. O céu deve ser como uma bússola, que nos guie em direção aos melhores movimentos, seja em que clima for. Não é a visão de uma possível tempestade que vai indicar uma inevitável derrubada de nossa casa. Antes, tal visão deve servir como aviso de que convém prestar atenção às fundações da casa. Diante de questões possivelmente complicadas, rever os pontos de fragilidade sempre evita problemas maiores. E por falar em revisões, os ciclos de Mercúrio retrógrado são perfeitos para isso.
Assim, diferentemente do que apregoam os apocalípticos midiáticos, não há motivos de pavor em mais um cíclico eclipse solar. Esse “combo” de energia ariana, com possibilidades de descontrole e impulsividade, no jogo de luz e sombra comum aos eclipses, bem pode embasar uma fase produtiva de ajustes sobre a intensidade de nossa força e vontade. Se conhece seu mapa astral, localize onde se encontra Áries e reflita, nesta área de sua vida, sobre o que há em excesso de intenção, a gerar ansiedade e irritação, e o que há em falta de confiança, a produzir medo ou ressentimento. Pense: como curar essa área? Busque saídas, e tente-as. Se precisar, como diria Raul, tente outra vez. E vá com calma: outros eclipses virão, a vida continua.