Vivemos a navegar nas redes do infomar. As referências marinhas a uma ação que pressupõe o uso da tecnologia fazem sentido no jargão astrológico. O mar, com suas imagens associadas, pertence ao universo de Netuno, regente de Peixes, e cabe a Urano a dimensão tecnológica, daí que foi no trânsito de Netuno pelo signo de Aquário, regido por Urano, que as redes sociais surgiram e mudaram o nosso mundo.
O Facebook, por exemplo, foi criado em 2004, quando Urano e Netuno transitavam um pelo signo do outro. A rede social foi lançada em Aquário, quando o Sol se alinhava a Netuno. Traduzindo: para além das amplas e livres conexões comunicativas uranianas, o espaço virtual das redes sociais terá também um lado enganoso e escorregadio, peculiar a Netuno.
E assim tem sido. Já até conhecemos bem os perigos das redes, com sua sedução alienante e alucinante. São inovadoras “águas” eletrônicas, tão fantásticas quanto traiçoeiras, capazes de atrair fatalmente para suas camadas abissais tantos Narcisos embriagados pelas imagens que projetam. Mais grave, contudo, é a oferta de uma realidade paralela, tecida por anseios e carências, cujo efeito vai muito além das meras projeções narcísicas.
Em sua arte de borrar limites e desfazer fronteiras, o encantador e messiânico Netuno invade o real. Fato e ficção se fundem. Verdades e mentiras se entrelaçam em narrativas de cunho emocional que sempre desafiam os parâmetros da racionalidade. O desvario coletivo que assoma gera um quadro propício para a ação manipuladora de poderes sombrios da economia e da política. Eis o mundano cenário atual.
O trânsito de Netuno por Peixes, desde 2012 (e vai até o começo de 2026), vem coincidindo com o crescimento de “cardumes” em busca de redenção nas promessas de líderes religiosos e políticos. Se, por um lado, em nome do espírito democrático, não se pode controlar as escolhas e manifestações individuais, por outro lado urge criar mecanismos de responsabilização por eventuais mentiras e distorções dos fatos divulgados nas redes sociais.
A passagem do austero Saturno por Peixes, de março de 2023 a fevereiro de 2026, reforça essa fundamental ordenação do uso de tais veículos virtuais de comunicação — ainda mais com a chegada impactante das inteligências artificiais. Mas, apesar de necessária e urgente, essa regulamentação não é fácil. Mil artifícios ilusórios podem surgir para evitá-la. O mito grego de Proteu ajuda a entender o problema.
Proteu era um ser marinho que guardava os rebanhos de focas de Netuno. Era chamado de o Velho do Mar e tinha um temperamento arredio e violento. Em retribuição ao trabalho fiel de Proteu, Netuno lhe dera o dom de revelar a verdade sobre qualquer situação. Difícil era convencê-lo a isso, e mesmo chegar perto dele, pois também tinha o dom de assumir sucessivas formas diferentes, quase todas monstruosas.
O herói grego Menelau, no retorno da Guerra de Tróia, precisou recorrer ao Velho do Mar para saber como chegar em casa. Menelau e alguns companheiros se disfarçaram com peles de foca e, quando Proteu entrou numa gruta para dormir um pouco, agarraram-no com toda força. O Velho do Mar virou leão, dragão, pantera, porco e até uma árvore, mas os guerreiros não o soltaram, até que ele, cansado, entregou as verdades buscadas.
Vamos torcer para que o rigor do Velho Saturno possa conter as artimanhas do perigoso Velho do Mar. Se navegar é preciso, que seja por águas com definidos critérios de precisão. Chega de monstruosidades impunes nas redes.