“Quem lê tanta notícia?”, perguntava Caetano na canção Alegria, Alegria. Era 1967. Nas bancas de revistas, templos de distribuição da então dominante mídia impressa, publicações davam conta do que se passava no mundo, estampando espaçonaves, guerrilhas e estrelas de cinema. No estilo cinematográfico da canção, corto a cena para o agora. E foco na página inicial de um desses portais de notícias, que há muito fizeram sumir as bancas de revistas na avalanche provocada pelas novas mídias virtuais. E a pergunta que surge já não é sobre quem consome tanta notícia, mas a quem pode interessar a maioria do que ali aparece como tal.
Sei do abalo que o jornalismo ainda sente com a instantaneidade multimídia exigida pela internet. Também sei do desafio que é atender a um público heterogêneo, num contexto de múltiplas redes sociais, em que qualquer pessoa se torna produtora de conteúdos. Sim, são tempos complicados, mais ainda pela alucinação coletiva que trocou o fato pela crença, a ciência pelo mito. Só acho que o jornalismo não pode alucinar junto. Se tornar atrativa uma página inicial de um portal de notícias demanda um diálogo com as redes sociais, há que se atentar aos riscos do sensacionalismo e do apelo à idiotice.
Sempre houve sensacionalismo, e não quero entrar aqui naquela onda de “antigamente era melhor”. Acho a internet uma ferramenta maravilhosa. Minha bronca é com a estupidez dos critérios de seleção do que seja relevante. Ou talvez minha irritação venha da constatação de que não é o jornalismo que anda perdido, mas de que é o mundo mesmo que emburreceu. Basta conferir a proliferação de canais no YouTube que explicam até os finais mais óbvios de filmes. Ninguém quer mais pensar. Em tempos de manadas políticas e influencers de tudo, raciocinar para quê? Como diria uma personagem da Grace Gianoukas, pensar dói.
No começo da massificação da internet, o italiano Umberto Eco já apontava o problema da falta de um filtro de pesquisa para o usuário comum. Para ele, a internet seria boa para quem já tem o conhecimento, mas perniciosa para quem não o tem. Sobre a quantidade de dados sem critério, dizia que “o excesso de informação provoca amnésia”. Ouso ampliar e exagerar isso: ser bombardeado por bobagens provoca burrice. E quanto mais imbecil o público, mais fortes deverão ser as doses de irrelevâncias oferecidas. Donde percebo a contribuição de algumas empresas de comunicação nesse processo, por não frearem, em nome da audiência, a retroalimentação da estupidez.
O noticiário em cima do Big Brother Brasil, por exemplo, testa qualquer limite de bom gosto. Mesmo quem nunca assiste, como eu, não tem como evitar as repercussões do que é vendido como um microcosmo da sociedade – mas que não passa de um manipulado circo de horrores. Tudo do BBB vira pauta. Semanas atrás, havia a chamada: “Sapato suspeita de candidíase; entenda os sintomas”. E outra: “Gabriel dá dica para fazer cocô”. E mais essa: “Bruna acha pelo íntimo em escova de dente”. Ok, posso estar sendo ranzinza ou a desprezar a face de entretenimento que a internet também tem. Mas precisa apelar tanto?
Chega do falso argumento de que “é disso que o povo gosta”. Ariano Suassuna já quebrava a crença de que cachorro só gosta de osso, provocando: “Experimente oferecer um filé e um osso e veja que cachorro não vai querer o filé”. Socorro, Suassuna! Tá osso! Como Aquário rege as comunicações de massa, tomara a lenta passagem de Plutão pelo signo nos cure de tanta mediocridade.