Embora os astrônomos o tenham rebaixado à condição de planeta anão, Plutão segue firme e forte como um dos mais fascinantes e temidos planetas para a astrologia. Desde o nome com que foi batizado, alusivo ao deus grego dos mortos e do poder subterrâneo, este astro costuma despertar bastante interesse, principalmente quando muda de signo, como agora. Neste ano, ele ensaia por três meses, de 23 de março a 11 de junho, sua entrada em Aquário, retorna ao final de Capricórnio, até entrar de vez no signo do aguadeiro em janeiro e lá transitar até 2044.
Por seu longo tempo de 248 anos para percorrer todo o zodíaco, os lentos trânsitos plutonianos marcam a esfera coletiva com mudanças históricas profundas. É bastante sincrônico que tanto sua entrada no signo de Capricórnio, em 2008, quanto a sua saída agora coincidam com impactos mundiais pela quebra de grandes bancos. Tais fatos conjugam temas ligados a Capricórnio, como economia e estruturas administrativas, a outros ligados a Plutão, como destruição e regeneração.
Também associado à intensidade e ao poder, Plutão, em seu ciclo capricorniano, revelou os protagonistas bilionários da economia global na mesma medida em que expôs o esgotamento de um modelo de produção e consumo. Ricos ficaram mais ricos, pobres ainda mais empobreceram e o meio ambiente clama por atenção e socorro. A ambição desmedida criou uma onipresente ideologia do empreendedorismo, sufocando a alma no homem. E agora, Plutão, que novas lições e transformações nos aguardam?
Podemos especular os efeitos desse trânsito de 20 anos aplicando a intensificação radical plutoniana a assuntos aquarianos como estruturas sociais, diversidades, direitos humanos, tecnologia e meio ambiente. No entanto, dentro da dinâmica de ciclos que se repetem no espelhamento entre terra e céu, basta observar a passagem anterior de Plutão por Aquário para ter bons indícios do que pode vir. E a última vez que isso ocorreu foi entre 1778 e 1798.
Poucas épocas foram tão revolucionárias como aquela, formatando o mundo moderno. O conhecimento científico produziu a máquina a vapor e deflagrou a Revolução Industrial. Ideias libertárias iluministas embasaram a Revolução Americana já em 1776, com o surgimento dos Estados Unidos e sua carta constitucional que inspirou outras nações. A Revolução Francesa, em 1789, quebrou o modelo rígido de realeza e hierarquia social. E até o próprio céu se alargou: em 1781, foi descoberto Urano, dobrando o tamanho do sistema solar.
Agora, depois de dar uma volta completa em torno do Sol e outra vez passando por Aquário, Plutão pode indicar potentes correções no rumo do que convencionamos chamar de progresso. Isso envolve o próprio modelo social e produtivo surgido no Ocidente por ocasião do trânsito anterior. O contexto é outro, é claro, mas a repetição de ciclos costuma acionar suas origens no passado, em reafirmações ou expurgos. Assim, a tecnologia deve disparar ainda mais como poder hegemônico, entre nuances de conexões e manipulação. As recentes novidades sobre inteligência artificial já antecipam as delícias e dores do futuro breve. Como estabelecer uma ética nesse campo ainda nebuloso?
A diversidade social deve se articular ainda mais em grupos, tornando mais complexa a gestão do coletivo. Com o empoderamento de cada segmento, como pensar no todo e agir em conjunto? Aquário é um signo algo radical; Plutão não é de flexibilizar. Que nos guie, então, a mais profunda consciência de sermos igualmente humanos.