É um pássaro? É um avião? É o Super-Homem? Quem, afinal, risca o céu de modo tão brilhante? Ah, é um libriano a desafiar a finitude da vida e a fazer-se eterno como modelo de absoluta humanidade. Pelas efemérides que recheiam os almanaques populares – e que não podem ficar de fora deste –, descubro que o ator americano Christopher Reeve estaria completando 70 anos neste 25 de setembro. Em tempos de grotescas machezas, de egoísmos cegos e de desvarios desumanos, ponho-me na obrigação de resgatar a jornada desse homem generoso que, embora tocado pelo trágico, mais ainda derramou-se em luz e esperança pelos outros.
Christopher Reeve foi um desses casos, não tão raros, em que vida e arte se fundiram de incrível maneira. O papel que o projetou ao mundo foi o do Super-Homem, no filme de 1978, e que ele encarnaria em mais três sequências. Bonito, musculoso e viril, Reeve deu forma ao que o imaginário da cultura de massa esperava do personagem criado nos quadrinhos em 1938. Mas não bastava ao papel ser um homem forte e destemido. O herói também tinha outra identidade: o tímido e sensível Clark Kent, que atuava como jornalista. E mesmo em sua faceta mais guerreira foi capaz, no final do primeiro filme da série, de inverter o giro da Terra para voltar no tempo e salvar sua amada. O homem mais poderoso do mundo precisava ser, antes de tudo, amoroso.
Essa cena inspirou Gilberto Gil, na época, a compor a belíssima Super-Homem, a Canção. Na defesa da dimensão feminina de cada homem, pela qual o masculino verão seria o apogeu da feminina primavera, Gil imaginava um novo super-homem a ressignificar a identidade masculina pela mudança que pudesse fazer no curso da história “por causa da mulher”. Era uma leitura bem distinta da imagem do super-homem (o ser, não o super-herói) distorcido das ideias de Nietzsche e que já alimentara fantasias bélicas e racistas no nazismo. Pelo ato de amor do fim do filme, Reeve colou-se ao símbolo do masculino ideal porque tocado pelo feminino amor. Logo a seguir, em 1980, sua atuação no romântico Em Algum Lugar do Passado reforçou isso.
No mapa astrológico de Christopher Reeve, o Sol, em Libra, estava em conjunção exata com Mercúrio, indicando uma possível fusão entre meio e mensagem, entre ator e expressão. Ainda em Libra, o regente Vênus conjunto a Netuno potencializava tanto um magnetismo cênico quanto uma capacidade de transcender pelo amor e pela entrega social. O ascendente em Leão e a conjunção da Lua com Marte em Sagitário, mais um Júpiter no alto do mapa, dotaram-no de uma visão magnânima e otimista da vida. E essa soma de indicações se
manifestou no desdobramento da queda de cavalo que o deixou tetraplégico, em 1995. Foi quando o herói real se revelou.
Mesmo com todos os tormentos e limitações de sua delicada situação física, Reeve lutou intensamente pela vida, fosse a própria ou a de tanta gente com problemas de mobilidade. Tornou-se ativista pela legalização das pesquisas com células-tronco e criou fundações para isso. Quando morreu, em 2004, aos 52 anos, o mundo chorou a perda de um verdadeiro super-homem. Como na jornada de formação do herói mítico, ele fez do próprio sofrimento uma via de maior conexão com os outros. Sua refinada compaixão foi o elixir mágico que ofereceu ao mundo ao fim da jornada. E nesta justa exaltação a ele, percebo que o que torna superior um homem não é sua afirmação de macheza, mas seu amor, sua disposição em cuidar, sua defesa da paz.