Sob o Sol de Virgem, signo de forte conexão com a natureza e tradicionalmente associado ao trato com os animais, descubro que faz 100 anos da estreia no cinema de um astro canino sem igual. Seu nome era Rin Tin Tin. Descubro também que o cão superstar teria nascido no dia 10 de setembro de 1918 – um virginiano, portanto! Talvez isso explique a inteligência sem igual desse pastor alemão e seus outros talentos especiais que o levaram ao mérito de ter as patas impressas na famosa Calçada da Fama. No céu de seu nascimento, Urano, em Aquário, se destacava, indicando tanto uma transgressão da vida comum de um cão quanto uma certa vocação para impactar na cultura de massa. E ele foi mesmo surpreendente.
Pelo Google, fui atrás da história original do Rin Tin Tin – que daria um baita filme! Tudo começou no final da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Após um bombardeio, o soldado norte-americano Lee Duncan encontrou um canil alemão abandonado na região de Lorraine, na França. Entre os escombros e muitos animais mortos, uma cadela pastora amamentava cinco filhotes recém-nascidos, que foram salvos e recolhidos pelo regimento. Duncan ficou com um macho e uma fêmea, nomeando-os, respectivamente, de Rin Tin Tin e Nannette. Finda a guerra, de volta para casa, na cinematográfica Califórnia, Duncan treinou o macho em saltos ousados e outras atividades cênicas, surpreendendo-se com a esperteza de Rinty, como era carinhosamente chamado. Já Nannette não sobreviveu por muito tempo.
O sucesso das artes e irreverências de Rin Tin Tin em exibições públicas em Los Angeles não demorou a chamar a atenção dos estúdios de Hollywood. Aos quatro anos, em 1922, ele debutaria em filme no papel de um lobo, para ganhar protagonismo no ano seguinte, já com seu nome em destaque no cartaz. Era tempo ainda do cinema mudo, e o danado conseguia expressar com perfeição as nuances emocionais previstas nas histórias. O mundo se rendeu a Rin Tin Tin, o cão heroico e amoroso. Quando morreu, pouco antes de completar 14 anos, a triste notícia comoveu o planeta inteiro. Mas outros filmes com seu nome seriam feitos, agora com a atuação dos filhos e netos do Rinty original.
Na década de 1950, com a televisão se propagando nas casas, uma série longa se encarregaria de perpetuar a fama do maior astro canino da história. Foi essa série que popularizou Rin Tin Tin no Brasil. Na minha infância, nos anos 1970, vi a reprise de muitos episódios, sempre torcendo pela entrada salvadora de Rinty no momento crucial dos perigos enfrentados pelo pequeno órfão Rusty no Forte Apache. E o imaginário coletivo espalhou o nome de Rin Tin Tin entre a cachorrada, tanto entre perigosos pastores alemães de guarda quanto entre vira-latas de toda natureza. E que garoto não queria ter seu próprio Rin Tin Tin?
Patrono de tantos outros cães que também conquistariam o mundo – de Lassie a Marley –, o célebre pastor alemão mereceu uma badalada biografia, já publicada no Brasil: Rin Tin Tin – A Vida e a Lenda, de Susan Orlean. No livro, a autora chega a associar o antigo carisma midiático
de Rinty ao hábito cada vez mais difundido entre os humanos de tratar mascotes como filhos. Quem imaginaria essa história, hein, Rinty? E pensar que teu destino inicial era ser somente mais um feroz cão de combate do exército alemão! Ainda bem que as coisas mudam, que as guerras acabam, que a arte suaviza e transforma os cotidianos e que o afeto sempre há de inspirar o melhor do humano.