Nunca é demais falar de Mercúrio neste ano em que o planeta ganha ênfase por várias razões. Mais um ciclo de retrogradação do astro da mente e das comunicações e conexões ocorrerá de 10 de maio a 3 de junho. Mercúrio parecerá andar para trás, sinalizando uma revisão dos seus temas com outra moldura mental. Apesar da má fama desses ciclos, dados a contratempos, mal-entendidos e esquecimentos, é uma boa época para concluir pendências e lidar de outra maneira com situações do passado. Com mais atenção antes de falar e agir, tudo poderá fluir sem problemas.
No mesmo dia do início da retrogradação de Mercúrio, o gigante Júpiter ingressa em Áries, trazendo a energia assertiva do fogo a questões legais e institucionais. Esses dois planetas estão conectados fortemente na astrologia, pois regem signos opostos: Mercúrio governa Gêmeos e Virgem; Júpiter, Sagitário e Peixes. Ambos simbolizam aspectos complementares da esfera mental. Enquanto a mente mercurial desdobra o ambiente próximo e as miudezas, a mente jupiteriana filosofa e conecta o conhecimento a uma busca pela verdade mais ampla. Se Mercúrio rege a comunicação, Júpiter será a ética e a justiça num enfoque social. E aqui chegamos a um tema crítico de nossos dias: quais os limites legais da liberdade de expressão?
A mitologia nos ajuda a entender a função jupiteriana em relação à mercuriana. Logo após nascer, Hermes/Mercúrio roubou parte do gado do irmão Apolo. Denunciado a Zeus/Júpiter, o pai e juiz supremo, Mercúrio negou descaradamente o roubo, alegando ser apenas um recém-nascido. Coube a Júpiter, apesar de achar graça na persuasiva cara de pau do novo filho, exigir que Mercúrio devolvesse o gado furtado. A seguir, elegeu-o como mensageiro oficial dos deuses. E foi assim que Mercúrio, com sua destreza mental e oratória, tornou-se patrono tanto dos comunicadores e comerciantes quanto dos mentirosos e ladrões. Resumo da historinha: sem os parâmetros maiores da justiça, a comunicação pode resultar muito perigosa.
Ora, o Brasil é um país mercuriano, tanto pelo Sol em Virgem (nascido a 7 de setembro) quanto pela Lua em Gêmeos. Está colada à imagem nacional uma faceta malandra, que cria jeitinhos espertos para driblar as regras e leis. E apesar dessa ética frouxa e de uma aversão a limites, queremos que se cumpra o propósito de o Brasil ser o país do futuro. Como? Eis a pergunta que nos desafia.
Nos últimos anos, a oposição do nebuloso Netuno ao Mercúrio do país vem bagunçando ainda mais os já elásticos referenciais de ordem e verdade. A realidade virou surreal – ou seria melhor dizer pesadelo? Com a explosão desmedida dos meios de comunicação virtual e do anonimato e impunidade inerentes a eles, a pilantragem mercuriana está a deitar e rolar. Mentir, agora, é direito à opinião. Socorro, Júpiter!
Terra e céu estão a revelar os desafios para vencer o reino da mentira e da mistificação que amplificou e empoderou nossos piores valores como povo. Assim, que a atual retrogradação
de Mercúrio sirva ao menos para trazer à tona as tramoias e mentiras dos falsários em pele de salvadores. E que a passagem de Júpiter por Áries fortaleça o judiciário como poder constitucional de contenção e punição dos excessos cometidos em nome de uma suposta liberdade de expressão.
Sabemos que a desconstrução do famigerado jeitinho – e de seus graves derivados – depende da melhor associação entre Mercúrio e Júpiter: a educação. Mas – oh, dor! – também sabemos a quantas anda esse tema no Brasil.