A cada ida ao supermercado, já me preparo para os sustos com o aumento dos preços. Fervo de raiva da minha impotência diante de um sistema violento de exploração em vários níveis. Sinto ganas de rebelião, ganas de sumir e ir morar no mato. Em clara postura de reação, deixo de comprar vários produtos. E vou pensando, a caminho de casa, no lento trânsito de Urano por Touro, o signo dos valores.
Sim, crises econômicas podem ser oportunidades para amplos questionamentos sobre a nossa relação com os recursos. Aqui a memória puxa a antiga afirmação do americano Henry David Thoreau (1817-1862) de que um homem é rico na proporção das coisas que pode deixar de lado. Pois bem, será que precisamos mesmo de tudo o que estamos acostumados a consumir?
Para o autor, como consequência de uma busca contínua por acumulação, os homens se transformaram nos instrumentos de seus instrumentos. Viraram máquinas! E sobre o consumo: “São as pessoas dadas ao luxo e à dissipação que lançam as modas que o rebanho tão docilmente segue”.
Essas ideias de Thoreau estão no livro Walden ou A Vida nos Bosques, publicado em 1854. É um relato sobre uma experiência ímpar no contexto da nascente sociedade consumista nos Estados Unidos. Descontente com tal cultura, o professor e filósofo Thoreau optou por tentar uma vida mais simples, em contato direto com a natureza. Aos 28 anos, construiu com as próprias mãos uma cabana à margem do Lago Walden, onde viveu por dois anos, imerso na floresta. E provou que era possível outro modo de vida.
O provocativo escritor nasceu sob uma tensão entre Saturno e Urano, o mesmo aspecto que se repete no céu de agora. Com o signo ascendente em Aquário, foi um arauto dos direitos humanos e precursor da ecologia. Antes de tudo, foi um pensador inconformado com ideologias e governos opressores. Para ele, a consciência, e não a vontade de uma certa maioria, deveria nortear as ações do Estado.
Thoreau chegou a ser preso por recusar-se a pagar impostos a um governo que, à época, legitimava a escravidão e declarava guerra ao México. Como um cidadão de moral poderia contribuir com ações tão vis? Seu ensaio A Desobediência Civil fala de ativismos não violentos pela justiça e pela liberdade e inspirou, no século seguinte, líderes como Mahatma Gandhi e Martin Luther King. Para Thoreau, “uma minoria só é impotente enquanto se amolda à maioria”.
O relato da vida nos bosques foi publicado quando Urano transitava em Touro, e Netuno em Peixes, como outra vez agora. Novamente, precisamos pensar num rumo coletivo que siga uma consciência superior e não uma cultura consumista; que exalte o respeito por cada ser e não os ditames de governos desumanos ou de sistemas econômicos predatórios.
Cheguei ao livro Walden por meio de outro livro, Na Natureza Selvagem, que rendeu o lindo filme homônimo de Sean Penn. Conta as desventuras reais do jovem americano Chris McCandless que, influenciado por Thoreau e outros visionários, abandonou a vida burguesa e foi morar na natureza do Alasca, onde morreu, em 1992, supostamente pela ingestão de plantas venenosas. A história é trágica, mas o sonho por detrás dela segue vivo. Ah, Chris era um aquariano, com o Sol exatamente conjunto ao ascendente de Thoreau!
Hoje, Urano nos mostra que utopias existem ao menos para nos acordar do torpor da passividade. De minha parte, como não posso morar nos bosques, já comecei minha rebelião pessoal negando o consumo de coisas a preços extorsivos. E, sei, não estou só nesse movimento.