Estamos atrasados. Estamos muito distantes do mundo ideal. Estamos quase tropeçando em 2025 e ainda não conseguimos clonar seres humanos. Eu sou a favor, apoio essa ideia. Maluca? Lúdica, eu diria.
Sou a favor do clone laboral. Só assim eu poderia ficar em casa – pra sempre – , curtindo o ócio criativo, lendo as pencas de livros que nunca li ou sair por aí, caminhando à sombra das árvores ou molhando os pés à beira-mar. Já dizia Mussum, o nobre poeta popular: “O trabalho danifica o homem”. É verdade esse bilhete, eu tive até uma camiseta com esse ditado.
Contudo, ainda impera outro ditado: “o trabalho dignifica o homem”. Digno mesmo, é irrefutável. Mas Mussum também tem razão. Afinal de contas, de que serve, em última instância, o trabalho?
De modo simplificado, eu, como trabalhador, “vendo” o tempo da minha vida a uma corporação, fábrica, empresa, a um ou mais sócios, ou ao “meu eu” Micro Empreendedor, em troca de uma remuneração, o dito salário. Enfim, uma digna (nem sempre) compensação pelo tempo de vida que deixei na firma, no escritório, sentado no banco de um veículo, e por aí vai. Ou seja, “tempo é dinheiro”, como dizem por aí.
Outro dia, ouvindo um coach ensinar uma plateia de jovens executivos de uma multinacional, ele repetia frases, sem citar a autoria, que, com o tempo, ganharam o status de ditado, justamente por expressar uma “sabedoria popular”. A primeira citada por ele talvez seja a top 10 de todo o sempre: “Encontre um trabalho que você ame e nunca terá que trabalhar um dia na sua vida.”
Amar o Jornalismo, a prática diária de ler, escrever, reescrever e editar, por si só, não é suficiente. Porque, sem um contrato de trabalho que me vincula a uma empresa, que determina uma jornada laboral, diária de X horas, e etc., etc., etc., eu não serei recompensado. Ou seja, não vou colher da terra o fruto digno da lavoura: o salário. Ou, posso praticar o dito popular citado no parágrafo acima, entregando-me de corpo e alma ao Jornalismo e, desempregado, viver de luz.
É por amar o ócio, por acreditar que o tempo é precioso, o maior valor dessa jornada que chamamos de vida, é que defendo a fabricação de clones laborais. Seres siameses aos originais, nem mais, nem menos inteligentes, com as mesmas falhas e defeitos, físicos e emocionais, para que trabalhem, trabalhem, trabalhem.
Os humanos estão cansados. Clones são incansáveis. Precisamos de uma pausa antes da saturação sem volta. Saturação como indivíduos e, por consequência, do planeta. Clones advogados e clones congressistas vão saber criar uma legislação coerente para os clones laborais. “Bah, Mugnol, mas aí vai ter clone bandido”. Vai sim, meu caro, essa é a nossa herança, tudo que os humanos fazem e fizeram, será replicado pelos clones.
Então, por hoje é isso. Agora vou ali onde Judas perdeu as botas, porque Deus ajuda quem cedo madruga, afinal de contas, amigos, amigos, negócios à parte, porque isso aqui não é a casa da mãe Joana. Se onde há fumaça há fogo é melhor eu tirar o cavalinho da chuva, porque a água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Fui!
E lembrem, cada macaco no seu galho: ao ser humano o que é do ser humano, ao clone o que é do clone.