Dia desses, num bate-papo com alunos da Escola Municipal Luciano Corsetti, me perguntaram porque eu escrevo. Não lembro bem o que eu respondi. Talvez eu tenha ido até a infância para tentar resgatar algo que pudesse fazer sentido. Enfim, não lembro. Ontem esqueci até da panela de chá sobre o fogão.
Talvez eu escreva para não me esquecer. Não esquecer que maio de 2024 foi o mês mais encharcado (até agora) da “história mundial” do Rio Grande do Sul. E continua a chover. Não esquecer que ontem, enquanto o chá evaporava, centenas de muçulmanos morriam por causa do calor extremo. Em Meca, durante a peregrinação ao local mais sagrado para o islamismo, os termômetros atingiram exatos 51,8ºC.
Escrevo para não esquecer que nesse instante o Pantanal, um dos menores biomas brasileiros, ao lado do Pampa, está ardendo em chamas. Do início do ano até o último domingo (dia 16), o fogo consumiu uma área duas vezes maior que a cidade de São Paulo — a mais populosa do Brasil.
Escrevo para não esquecer que a vida foi completamente ceifada em 338,6 mil hectares do Pantanal. Só para comparar — e não esquecer — aqui no Rio Grande do Sul cultiva-se uva em 47,5 mil hectares. Ou seja, é como se nós tivéssemos perdido, em seis meses, pouco mais de sete vezes a área de vinhedos plantados no Estado.
Escrevo para não esquecer do que os especialistas estão chamando de “a maior onda de calor em décadas nos Estados Unidos”. O verão recém está chegando por lá e os termômetros devem bater nos 40ºC. Ainda em janeiro, um grupo de cientistas ianque alertava ao dizer que os EUA registrariam temperaturas recorde.
Escrevo para não esquecer que essa chuvarada toda na América do Sul, sobretudo no estranho outono do RS, é fruto do fenômeno climático batizado de El Niño. Dizem que a temporada de cataclismas do El Niño está acabando.
Escrevo para não esquecer da notícia que li ontem no Pioneiro. Sairá de cena El Niño porque vem aí a invernal La Niña. Diz assim o texto: “Depois da chuva registrada no mês de maio, que atingiu todo o Rio Grande do Sul, o temor é de que com a estiagem, efeito do fenômeno meteorológico, o plantio possa ser afetado pela falta de irrigação”. Ou seja, depois da chuvarada, vem aí a seca para desidratar a terra que já viu morrer todos os seus nutrientes.
Escrevo para não esquecer que ontem os ditadores Vladimir Putin e Kim Jong Un, ou melhor, como reza a diplomacia, os líderes da Rússia e da Coreia do Norte, assinaram papéis e posaram para fotos. Putin, que sustenta uma guerra insana contra a Ucrânia, explicou o motivo da visita ao colega Kim: “O acordo de parceria abrangente prevê, entre outras coisas, a assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes desse acordo”.
Escrevo para não esquecer de esperançar.