A razão e os livros da escola dizem que o mês de maio tem 31 dias. Não tem, não. Maio de 2024 será lembrado como o mês mais intemináááável desde que resolvemos contar os dias, os meses e os anos. Pelo menos até a próxima tragédia. Digo isso desprovido de pessimismo tóxico, sendo apenas realista (não contém ironia). Estou no time dos que têm certeza de que o curso do planeta será de sucessivas tragédias, entre pandemias e eventos climáticos extremos. Sem purpurina.
Voltando ao interminável. Por que maio tem provocado essa sensação tão avassaladora? Por que maio não termina mais? Nesta sexta-feira (31) ainda vai ser maio. O que ainda pode acontecer entre quinta e sexta? O que nos dizem os astros, os búzios, os profetas, as cartas? Estamos na antessala do apocalipse? Talvez. No longínquo 21 de maio, diiiias atrás, a tradução em inglês de Memórias Póstumas de Brás Cubas, do Machado de Assis, estava no topo dos mais vendidos na loja virtual mais conhecida do mundo.
Por que a gente tem mania de fazer perguntas se nem sempre ajuda? “Por que isso tudo foi acontecer?”, “por que tanta chuva?”, “por que tanta seca?”, “por que choram tanto?”, “por que a água não sai daqui?”, “por que não tem sol?”. Sempre haverá respostas, da ciência, da negligência, entre a paciência e a demência. Respostas da academia, dos desconhecidos nas fila da farmácia, padaria e até Caixa Federal, à espera do benefício.
Resolve de quê, se a pergunta que nunca será respondida, porque redunda em aflição, é: “por que, nós, como sociedade, ajudamos a abreviar a vida de tanta gente, em todos os continentes, intermitentemente, contribuindo ainda pra bagunçar o tempo?”. Pois é. Ora a bagunça é tanta que o tempo se esvai como a água com sabonete escorrendo por entre os dedos. Ora o tempo se arrasta, em tédio, pranto e manto fúnebre, sepulcral, em maios e pandemias interminááááááveis. E ainda não terminou.
Quando maio terminar, ainda vai faltar muito tempo pra recolocar a vida em ordem. E quando todos voltarem a ter casas e eletrodomésticos, resultando em economia aquecida, ainda vai ter gente em luto, tentando lembrar do sorriso de quem foi arrastado pela enxurrada. Ainda vai ter gente procurando o amor que desapareceu, como relâmpago e trovão.
Maio interminável ajuda, inclusive, a ressignificar uma bela e doce canção como aquela do Nando Reis escrita pro filho. E que começa perguntando: “por que o sol saiu?”. Sei lá, Nando. “O mundo é bão, Sebastião”. Não é, não, Nando. Enquanto uns clamam por Jesus, pra que venha logo resgatar o seu rebanho, outros estão à espera do cataclismo, com requintes de espetáculo e trilha sonora de explosão. Vem antes o sol ou o meteoro?
O mundo nem sempre é bão, Sebastião. Tem vezes que é. Mas nem sempre. No meio disso tudo, nesse intermináááááável maio, o Caxias segue na fila da série C. E o glorioso grená só volta aos gramados em junho, que é só depois de maio. E maio é o mês que nunca vai terminar.