Neste fim de semana, a coluna tem o prazer em apresentar Helen Rodrigues, psicóloga clínica e em processo de formação em psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre/Serra. Em nossa conversa de início de ano, ela compartilhou detalhes da vida pessoal e profissional e refletiu sobre o que norteia seu ofício no cuidado da saúde mental. Natural de Porto Alegre, mas vivendo há muito em Caxias do Sul, Helen traz uma perspectiva enriquecedora acerca da psicanálise e o papel da cultura local na construção da subjetividade dos pacientes.
— Nossa história sempre começa antes de nós — afirma Helen ao traduzir a importância da família em sua evolução. A filha de Francisco Lindomar Rodrigues e Elisabeth Martins Rodrigues cresceu em um lar numeroso e unido ao lado de suas gêmeas, Érica e Alice, com quem forma um belo trio, e de seus dois irmãos mais velhos, Aline e Eron. Essa dinâmica familiar marcada por afeto e cumplicidade moldou profundamente como ela se define.
A escolha pela Psicologia, contudo, foi fruto de uma busca por um grande propósito. Helen inicialmente pensou em atuar na área da moda, mas sentiu a necessidade de identificar-se com o que faz seu coração pulsar em sinergia mental-emocional. Foi durante suas próprias vivências em terapia que se apaixonou pela profissão — No divã, percebi que era isso o que queria para minha vida — conta, lembrando do momento decisivo.
Formada pela UCS, Helen encontrou na psicanálise o caminho para trilhar. Durante a graduação, o interesse pela abordagem surgiu e se consolidou durante o processo de análise. Em 2019, abriu seu consultório e passou a atuar na área clínica, ao mesmo tempo em que se aprofunda no campo psicanalítico.
Para Helen, a psicanálise é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento, uma jornada que explora os mistérios do inconsciente. Ela explica que, no ambiente terapêutico, o paciente pode falar livremente, sem medo de julgamentos, enquanto o psicanalista escuta com foco pleno. Esse processo permite que os indivíduos elaborem suas questões internas, resolvam conflitos e descortinem maneiras mais autênticas de viver — A psicanálise não oferece soluções rápidas, mas ajuda a se conectar com seus desejos mais profundos — reflete.
A relação entre cultura e subjetividade também é um aspecto que Helen observa em sua prática. Ela acredita que características locais, especialmente em uma cidade como a nossa, influenciam a forma como as pessoas percebem a si mesmas e o entorno. Questões ligadas à família, ao trabalho e às expectativas sociais são temas recorrentes que se manifestam de maneiras distintas em cada história.
A pandemia de COVID-19 evidenciou desafios significativos para o tratamento da saúde mental. Medos, ansiedades e incertezas passaram a fazer parte do cotidiano de muitas pessoas, mas o período também revelou uma capacidade de adaptação surpreendente. Helen destaca o atendimento online, que se popularizou nesse período, uma alternativa eficaz para manter o trabalho terapêutico em andamento — Foi uma experiência nova, mas muito enriquecedora, que abriu portas para expandir a mente e o entendimento comportamental por diferentes lugares e perspectivas — avalia.
Ao falar sobre os sinais que indicam a necessidade de buscar ajuda psicológica, nossa entrevistada é enfática: — Quando o sofrimento se torna persistente e a pessoa não consegue lidar com as questões que a afligem, é hora de procurar um psicanalista — Embora acredite que nem todos precisam passar por uma análise, ela reforça a importância do apoio especializado quando necessário.
A prática clínica, para Helen, é repleta de momentos marcantes. Um dos aspectos mais gratificantes de seu trabalho é acompanhar a transformação de seus pacientes — É incrível ver uma pessoa superando suas dificuldades, tirando as “pedras do sapato” e se tornando mais livre e feliz — comenta.
Equilibrar a vida é um desafio constante, mas Helen acredita que estar em análise pessoal é essencial para todo psicanalista. Fazer terapia a ajuda a separar suas questões das dos pacientes e a oferecer um atendimento qualificado.
Quando questionada sobre como melhorar a autoestima, a psicóloga sugere que as pessoas parem de se comparar com os outros e aprendam a valorizar suas verdades — Aceitar suas imperfeições é um passo importante para o fortalecimento emocional — afirma.
O que motiva Helen em sua profissão é a possibilidade de ouvir histórias de modo profundo e orientar o caminho evolutivo apropriado — Estudar a alma humana e os mistérios do inconsciente me fascinam e motivam a continuar crescendo — diz. Se pudesse voltar no tempo, aconselharia a si mesma a confiar mais em sua percepção e a aproveitar as chances que se apresentavam à época.
Ao final da conversa, Helen compartilha o que considera o “bom da vida”: momentos de alegria e tranquilidade ao lado das pessoas que ama — São os diálogos, as escutas atentas e as boas gargalhadas que realmente importam — conclui, com a sabedoria de quem sabe o que realiza.
No divã:
- Um hábito que não abre mão? Movimentar meu corpo, correr, isso é um cuidado que só eu posso fazer por mim.
- Meu lugar no mundo... Caxias do Sul, cidade que escolhi para evoluir.
- Viver é... difícil em alguns momentos, mas maravilhoso!
- Saúde mental é... lembrar que a vida exige eterno equilíbrio entre os momentos difíceis e os de satisfação e felicidade.
- Sonho realizado e outro para tirar do papel: minha formação em psicanálise e ser mãe.
- Gostaria de ter sabido antes que... o tempo é realmente um ótimo remédio.