Caroline Gonzatti, nascida em Nova Bréscia, vive em Monte Belo do Sul, cidade que elegeu para construir sua vida e tirar do papel a Seis Mãos, sua vinícola autoral. Aos 28 anos, a filha de Samuel Gonzatti e Rosângela Padilha já carrega uma bagagem impressionante no universo dos vinhos. Formada como Técnica e Tecnóloga em Viticultura e Enologia pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul, consolidou sua assinatura como enóloga e empresária. A conexão com o vinho, no entanto, iniciou por acaso, como ela mesma enfatiza.
— Quando me perguntam por que decidi estudar enologia, sempre respondo com tom divertido: “Porque minha mãe mandou”. E é a mais pura verdade — brinca Caroline. Desde cedo, Dona Rosângela a incentivou a buscar oportunidades e, ainda adolescente, ela ingressou no curso técnico de Viticultura e Enologia — Essa formação me possibilitou sair do ensino médio capacitada e com mais chances de ingressar no mercado de trabalho — complementa.
Foi durante o período de estudos e estágio que Caroline se apaixonou pelo mundo do vinho, um universo cheio de possibilidades sensoriais, algo que despertava seu lado artístico desde menina, quando suas brincadeiras envolviam barro, recortes e guache no quintal de casa.
— Minha infância foi explorar o ócio criativo. Sempre tive uma sutil inclinação ao belo — relembra.
Essa notável porção criativa e preciosista pode ser creditada ao conceito por trás da Seis Mãos, sua vinícola autoral. A inspiração para o nome da marca surgiu de um experimento em 2014, quando Caroline produziu suas primeiras garrafas de espumante caseiro. O rótulo, que nasceu de um desenho feito com suco de uva em uma aula de viticultura, marcou o início de uma jornada que uniria três profissões essenciais: o viticultor, o enólogo e o tanoeiro.
— Valorizo o trabalho das famílias produtoras de Monte Belo do Sul, que carregam um conhecimento sobre a terra e o clima que passa de geração em geração. Eles sempre entregam a melhor uva que podem, dentro das condições que têm — explica.
Outro elemento dessa tríade, o tanoeiro, cuida dos barris de madeiras nacionais, característica fundamental do empreendimento que ela comanda sozinha. Esse trabalho é essencial, pois a matéria-prima regional imprime autenticidade aos vinhos que elabora.
— A madeira brasileira não se parece em nada com o carvalho. O equilíbrio é a palavra-chave. Aqui, o vinho escolhe a barrica, e não o contrário — conta, referindo-se à interação delicada entre a bebida e a madeira durante o processo de envelhecimento e orgulhosa de seu companheiro, Mauro Mesacaza, que é o responsável pela confecção dos barris.
Nossa entrevistada também é uma defensora da sustentabilidade e acredita no respeito ao tempo, aos processos e à vida como pilares de sua produção.
— Embora a empresa seja pequena, fazemos o básico bem feito. Temos uma cisterna que coleta água da chuva, evitamos embalagens desnecessárias e estamos sempre atentos ao nosso impacto — ressalta.
Seus vinhos, assim como sua abordagem à vida, são pautados pela fluidez e pela leveza.
— A sensação de aconchego que uma taça de vinho proporciona é indescritível. Quando ele fala por si só, é como uma brisa calma no fim da tarde — discorre ela, com a paixão de quem vive intensamente cada etapa do processo de vinificação.
Entre seus rótulos mais representativos, destaca-se o Pinot Noir Solo e Sol.
— Me encanta desde a primeira vindima, tem consistência e elegância, o estilo de vinho que realmente aprecio — revela.
O futuro da Seis Mãos promete ser único como é desde sua criação, e Caroline, com sua visão artística e respeito pela tradição, está determinada a deixar sua marca no mundo e evidenciar os detalhes que fazem a vida valer a pena. Como ela mesma diz, “em tempos em que a produtividade determina o valor do ser humano, eu gostaria de promover uma reflexão sobre o agora, sobre perceber o tempo e apreciar o momento.”
Decanter
- Um momento de que me orgulho: o dia em que obtive o registro do MAPA. Nesse momento, a Seis Mãos tornou-se realidade.
- Um sabor e um aroma... sabor da uva madura no pé e o aroma da fermentação.
- Meu lugar favorito é... ao redor das tinas de fermentação, durante a pigeage. O borbulhar me encanta, o caos da vindima também.
- Minha maior inspiração... minha mãe. Guerreira, determinada, destemida.
- No meu tempo livre... gosto de cozinhar com a família, fazer tricô, ouvir música, desenhar e tomar chimarrão com meus pais.
- Uma palavra que me define: criatividade. Para fazer coisas novas, mas também para resolver situações cotidianas, seja um problema ou uma necessidade.
- Um beijo: para minha mãe, Rosangela.
- Um abraço: apertado pro meu avô paterno, Itelvino Gonzatti, que não está mais entre nós, mas me ensinou sobre amor pela terra.
- Um aperto de mão: de boas-vindas para todos que desejarem conhecer.