A análise dos pensamentos pode colocar o ser humano em contato com doses de realidade e pertencimento que equilibram e alimentam a capacidade de ser e existir. Estudiosa, Eliane Deitos, psicanalista e psicóloga, filha de Ovídio Deitos (in memoriam) e Glaci Dolores Tomasi Deitos, é capaz de desvendar o inconsciente de maneira metódica e compartilha em uma conversa com a coluna neste fim de semana sobre o que acredita ser necessário para evolução de cada um como sociedade.
— Nasci em Caxias do Sul, cresci em uma família acolhedora que me deu a base necessária para seguir o caminho que escolhi e concluir minha graduação em Psicologia, pela Universidade de Caxias do Sul, e desde então me encanto pelo campo de estudos que a psicanálise proporciona aos que buscam aprofundar ainda mais o conhecimento em torno da mente humana com o entendimento daquilo que o sujeito fala sem saber ou faz sem dar-se conta — discorre Eliane esposa do empresário Flavio Tonietto, mãe da também psicóloga e psicanalista em formação Luiza Deitos Graneto, 27 anos, e de Pedro Deitos Tonietto, 23.
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Recentemente participou de um encontro que discutiu sobre processos identificatórios e gênero. Como a psicanálise pode explicar esse aspecto? A psicanálise se implica com aquilo que coloca o sujeito em sofrimento, tudo que leva o sujeito a desestruturar-se. As primeiras identificações são importantes para o sujeito. Ser identificado por outrem, é necessário para a formação do sujeito. O inconsciente também está implicado nessas identificações.
Como o inconsciente pode reger nossas escolhas de vida? O inconsciente tem uma parte importante em nossas vidas. Se apresenta nos sonhos, atos falhos, chistes, compulsões.
A expressão “Freud explica” tem fundo de verdade, uma vez que ele interpretou diversas nuances da psique humana? A teoria freudiana nos traz os aportes para seguirmos estudando e questionando. Sua teoria está aberta aos mais diversos autores e seguem por diversas vias.
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Foi aprofundando na evolução e interação interpessoal que Eliane estabeleceu, em 2018, a Vienna Instituição Psicanalítica, em Caxias do Sul, ambiente que abriga grupos de estudos para debates sobre as teorias da área e atendimentos clínicos, com o propósito de auxiliar indivíduos durante momentos de busca por autoconhecimento e controle sobre como reagir a determinadas situações de sofrimento.
— Nas incursões sobre a teoria de Freud, constata-se que ele não nos deixou certezas. Suas ideias ficam abertas aos mais diversos autores que interpretam, cada um, à sua maneira. A psicanálise é para todos que querem ou necessitam trilhar um caminho interno sem volta, reconhecer os barulhos da alma, reconectar-se — comenta.
Sobre o papel do psicanalista no desenvolvimento de uma sociedade, Eliane diz que a modalidade de pensamento a qual dedica sua carreira deve estar inserida com todas as questões que permeiam o meio social. Afinal, é ali que o indivíduo se encontra. A psicanálise reflete, fundamentalmente, com a consideração ao outro e a construção da alteridade, da identidade. Além disso, ocupa-se em amenizar o sofrimento e o mal-estar próprios da cultura.
— A psicanálise exige um tripé. Primeiramente e o mais importante, a análise pessoal, afinal nós, analistas, também somos sujeitos de inconsciente. Também é necessário o estudo da teoria e a supervisão, realizada com outro psicanalista mais experiente. A formação em Psicologia não é requerida em todas as instituições. Em sua maioria, aceita-se formação em Medicina e, em outras, ainda distintas formações em ensino superior. E quanto aos tipos de psicanálise, podemos dizer que todos partimos de Freud, que foi o pai de toda base teórica e técnica. Porém, a partir dele, outras vias foram-se abrindo, dando espaço a diferentes vertentes psicanalíticas, como Lacan e Melanie Klein — finaliza ao dar a dica para aqueles que desejam fixar carreira na especialidade.
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Três pensadores da psicanálise e suas ideias:
- Sigmund Freud (1856-1939): defendia que boa parte daquilo que vivemos, como, por exemplo, emoções, impulsos e crenças, surge a partir de nosso inconsciente e não é visível pela mente consciente;
- Jean Laplanche (1924-2012): idealizador da Teoria da Sedução Generalizada;
- Silvia Bleichmar (1944-2007): seguindo sua linha de pensamento, diremos que, a partir do momento em que a linguagem e o recalcamento originário se instalam e são abertas as relações entre o pré-consciente e o inconsciente, essas vias de ligação serão as formas de significar, ou seja, de auto teorizar.