No início dos anos 1990, os manos Allan e Jean Ribeiro percorreram a trajetória inversa a que os primeiros imigrantes italianos realizaram nos primórdios da colonização em Caxias do Sul. Há 30 anos, os jovens visionários seguiram os passos dos amigos Paulo e Domingos Zanol e migraram para Florença, capital da região Toscana, na Itália - conhecida por seus telhados em terracota e artes renascentistas - em busca de oportunidades no segmento que despertava a afinidade deles, a mixologia e o trabalho diretamente ligado à hospitalidade.
— Era uma ideia que se tornou um propósito de vida, nossa identidade. Se isso parece um pouco esquisito é porque de modo geral não estamos acostumados a tomar riscos. Mas, quando sentimos que pode dar certo, significa que os valores presentes são mais claros se seguirmos por aquele caminho do que outro — resumem os filhos de Adair Ribeiro (in memoriam) e Ivany Ribeiro ao contar sobre suas paixões pela enogastronomia e a expectativa, intrínseca à época, por desvendar o estilo europeu de viver La Dolce Vita (em referência ao filme de 1960, dirigido por Federico Fellini, uma das produções cinematográficas mais caras da Itália, em que o personagem principal descobre o real sentido da vida).
Os entrevistados desbravadores deste fim de semana nascidos em 1961 e 1966 atravessaram as fronteiras da Europa trabalhando intensamente. Allan também incursionou por endereços de alta gastronomia em um período de dois anos na Inglaterra, onde aperfeiçoou o idioma inglês. Depois os dois protagonizaram uma imersão nas mais efervescentes temporadas na Trattoria Il Francescano, de volta à Florença. Hoje, mais do que nunca, eles acreditam que para se ter sucesso no setor é preciso sensibilidade, tanto é que um dos desafios é saber exatamente o que oferecer do menu apenas observando o comportamento do cliente.
— Todo drink tem a louça e o indivíduo corretos. Posso usar uma preparação para contar algo às pessoas. Precisa ter sentimento — diz Allan, apaixonado marido da caxiense Patricia Costa com quem tem uma filha, Raffaella, 11 anos, nascida em Florença.
Apaixonados pela terra natal, a dupla retornou ao Brasil em 2019, pouco antes de decretado o início oficial da pandemia por aqui - Allan e Jean contam também que sempre era um momento de muita alegria quando desembarcavam nos períodos de férias aqui, o que fez crescer ainda mais a vontade de voltar para casa após 20 anos no exterior - e logo instauraram sua bandeira profissional com o projeto Sei Divino - expressão que é, ao mesmo tempo, um trocadilho entre “És Divino” e “És do vinho” -, um quiosque repleto de surpresas e alquimia, em um dos mais elegantes endereços da cidade, o Pharos, nos domínios da Rua Alfredo Chaves com a Santos Dumont, em aprazível ambiente com vista para a silhueta verde do Parque Getúlio Vargas, uma atividade que o leitor pode conferir, mas somente nos fins de tarde ensolarados.
Com esta proposta, a dupla caxiense que imprime um sotaque italiano no menu encanta os entusiastas da coquetelaria e arregimenta os amigos da infância e adolescência ao redor de clássicos como Boulevardier, Negroni, Whiskey Sour, Amaretto Sour, Hanky Panky e Spritz além, é claro, de enaltecer os vinhos da região. Em especial, uma criação de Jean, também conhecido pelo carinhoso codinome “Toto”, que acaba de lançar o rótulo Casa Um Sete Três, desenvolvido em parceria com a Vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira, um vinho tinto seco e um espumante brut a partir de uvas Chardonnay e seis meses de maturação em barris de carvalho que conferem intensidade de sabor com toque amadeirado.
— Acredito ser capaz de encontrar uma ressonância pessoal mesmo com áreas distantes da nossa cultura e experiência. Descobrir e alterar caminhos é natural para ampliarmos o senso de quem somos e desafios como empreender na mixologia e enogastronomia tem sido uma bela jornada. Compartilhar essa etapa de vida com o Allan é saber que, juntos, temos o que é necessário para fazer dar certo — conta Toto.
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Allan por Jean: é paciente, metódico e sabe conduzir com talento qualquer situação.
Jean por Allan: comunicativo, agregador e, acima de tudo, o melhor amigo.
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Como forma de agradecimento, Allan e Jean compartilham com os leitores uma receita clássica do drink Last Word, um de seus preferidos no cardápio do Sei Divino, feito com:
- ¼ dry gin
- ¼ licor de maraschino
- ¼ Green Chartreuse
- ¼ suco de limão fresco
- Gelo
Servir em taça de coquetel.