A história de Viviane Canziani Lautert é digna de ser relatada em uma obra literária. Não apenas pelo perfil em viver no seio de uma família alicerçada no amor, mas também pela jornada de pioneirismo que seus antepassados protagonizaram no Estado. Foi no Período Entreguerras, após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918 e o início da Segunda em 1939, que, em Porto Alegre, seu bisavô materno, João Kluwe, empreendedor do setor de decoração, idealizou a Forjas Taurus, a maior fabricante de armas de fogo do Brasil, e que atualmente é comandada por um grupo de empresários especializados no setor. Kluwe casou-se com Irma Wallig; foram pais de Elly Ieda Friddy Kluwe Haupt, avó de Viviane, de quem herdou, entre outras tantas características, seus famosos livros de receitas que recheiam suas ceias festivas.
— Naquele tempo, meu tataravô materno, Carlos Blauth, foi convidado para levar sua madeireira até a localidade de Farroupilha. Por lá, abriu caminhos por um desvio, para que o trem buscasse a matéria-prima. Quando passavam, diziam: “tem que pegar a madeira no desvio do Blauth”. E assim nasceu o nome da nossa comunidade, o Desvio Blauth, onde vivemos. Quando minha avó Elly era pequena, a família foi passar as férias no Blauth e se encantou pelo lugar. Meu bisavô paterno, então, pediu permissão à minha bisavó materna, Elsa Blauth, para construir um chalé de veraneio à família. Elly cresceu e conheceu meu avô Herbert Curt Haupt. Casaram e tiveram dois filhos, Ricardo e Angela, a minha mãe — relata a taurina do dia 28 de abril, filha de Angela Haupt Canziani (in memoriam) e Ivan Canziani, a quem Viviane reverencia o amor.
As figuras maternas sempre tiveram um papel relevante na preservação dos laços de afeto do clã; sentimento que foi herdado à Viviane, apaixonada esposa do empresário do setor automotivo Jean Carlo Lautert, e mãe coruja de Isadora, 11 anos, e de Leonardo Gael, 8, que crescem em um ambiente norteado por harmonia e amor. O legado que as mulheres da família deixaram vai para além das receitas. As histórias que ouviu na infância, costumeiramente ambientadas na cozinha, são pautas de muito orgulho, e ganham maior significado ao serem recontadas para a nova geração, perpetuando tradições repletas de enternecimento.
Muito mais que vocação, o chamado de Viviane ao métier é resultado da profunda admiração que preserva dos seus antepassados. Suas alquimias gastronômicas não apenas resgatam o aconchego em forma de paladar, mas também carregam pitadas de uma ancestralidade valorosa e desbravadora.
— Cozinhar é um ato de amor. É algo mágico, capaz de transformar tristeza em alegria — revela a cozinheira, adepta da culinária despretensiosa e reconfortante de “comfort food”.
O universo de Viviane transita livremente entre a demonstração de carinho com a família e com a comida. Em nostálgicas composições, a chef preserva os modos de preparo dos alimentos tal como executados historicamente por seus familiares, inclusive porcionando e servindo receitas clássicas nas delicadas louças e pratarias em que originalmente foram concebidas.
— Amo as datas festivas, em especial o Natal e a Páscoa. Preparo a ceia com uma mescla de pratos super especiais das minhas avós. A casa toda enfeitada, cantamos Noite Feliz em frente ao pinheirinho antes de abrir os presentes, exatamente como era quando eu era criança e quando minha mãe era criança! Amo esta tradição. Na Páscoa ainda escondemos os ovos no jardim e reunimos os primos para procurá-los após o tradicional café da manhã, com receitas antigas como a torta de maçã e a cuca hamburguesa que tem o cheirinho e o sabor da casa da minha Oma (avó em alemão). Desenvolvi meu próprio blend de chocolates, também decoro os ovos cozidos com as crianças exatamente como minha bisa, minha oma e minha mãe faziam — conta ela emocionada.
Essa dedicação e carinho não ficam restritos apenas a seus familiares, bom, pelo menos não as receitas, isto é porque Viviane apresentou, recentemente, em suas redes sociais (@vivicanziani) seu mais novo projeto, um curso online no qual ela ensina suas celebradas preparações. Intitulado Ceia de amor e de sabor, ela revela sensações e texturas de clássicos como, por exemplo, empadão de camarão, rosbife de filé com cogumelos e vinho do porto, diversas guarnições e sobremesas autorais.
— Junto ao curso, oferto dois bônus sensacionais. O primeiro deles é a lista de compras prontinha; o segundo é uma completa harmonização dos vinhos elaborada pelo meu tio e celebrado enólogo português, Carlos Fateixa — diz nossa entrevistada.
Com uma forte intuição e vontade de ir cada vez mais longe, Viviane finaliza: — Estar vivo é um presente muito valioso! Precisamos aprender a respeitar e compreender nossas diferenças. Somente assim teremos paz para seguir em frente — e presenteia os leitores da coluna com uma receita de um dos “mágicos” livros do clã.
O que não pode faltar no vocabulário de Viviane:
- Saúde;
- Amor;
- Empatia.
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Bolo de Maçã
Ingredientes:
- 3 ovos inteiros;
- 1 xícara de óleo de milho;
- 1 xícara de leite integral;
- 2 xícaras de açúcar;
- 2 xícaras de farinha de trigo;
- 1 colher de sopa de fermento químico em pó;
- 2 maçãs com casca e picadas;
- 1 colher de sopa de canela em pó.
Modo de preparo:
Misture os quatro primeiros ingredientes na batedeira até estarem bem incorporados. Em uma tigela coloque a maçã com a farinha, a canela e o fermento. Junte a preparação líquida na tigela com os secos e a maçã até ficar tudo envolto pela massa. Unte uma forma grande de furo no meio com manteiga e açúcar. Coloque a massa e leve ao forno pré-aquecido em 180°C. Asse até que, espetando um palito no bolo, saia seco. Desenforme e faça “nevar” açúcar de confeiteiro através de uma peneira fina.