A primeira caixinha ele mesmo fez. É de madeira, com detalhes pirogravados, data de 1982. Nela, estão, entre outras peças, uma medalha de São José e a cópia dos votos perpétuos que fez para a Ordem dos Capuchinhos. Depois desta, vieram muitas outras na coleção de relicários de frei Celso Bordignon, 65 anos.
— Sou muito ajuntador de objetos. Não jogo nada fora. As caixas servem para guardar lembranças e fragmentos de coisas que gosto — confessa.
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Quadradas, redondas, retangulares, sextavadas, de madeira, palha de milho, forrada com material reciclado como coador de café, de papelão, porcelana ou madrepérola, até laqueadas. Os tamanhos e materiais são variados. Algumas vieram da Rússia ou da Tunísia. Outras são presentes de amigos.
— Desde pequeno eu guardo tudo. Minha mãe tinha relíquias da família guardadas em caixas. Ela nos reunia para mostrar fotos, contava a história de cada uma. Também gostava de olhar o baú da minha avó, Ângela, no sótão. Lembro de muitos desses relatos. A base do ser humano é a primeira infância — reflete Bordignon, que nasceu em Sobradinho, na família de seis filhos e três filhas de Oreste Bordignon e Eugênia Fardin.
Além das várias caixinhas, mantém outras coleções junto ao seu atelier, no Museu dos Capuchinhos, onde vive há 23 anos. Por lá, também coleciona obras de arte, cartões, incensos, livros, licores, santos, ícones e pigmentos para tintas de suas obras. São elementos que evocam muitas possibilidades afetivas e estéticas.
— Hoje em dia a arte e o artista se utilizam de materiais diversos para ressignificá-los —acredita ele.
Em meio a esta miscelânea de referências e materiais, ele reflete sobre o gesto:
— São coleções de lembranças de pessoas e contextos. Cada peça tem um signo, um símbolo, é um sinal. Preservo para não esquecer. Mas, no mundo contemporâneo, tudo se descarta, não se reaproveita, não se reparte, estamos deletando nossas memórias — diz.