O olhar e os dreads multicor perambulam pelo mundo com Julia Webber. Filha de Paulo Francisco Webber e Andréa Varaschin Webber, irmã de Marcelo, aos 26 anos a designer atua no Núcleo de Pesquisa Inspiramais, realizando garimpo de tendências e mercado do único Salão de Design e Inovação da América Latina. Também é freelancer de consultorias para empresas focando identidade, coleções, imagem, posicionamento de marca e comportamento do consumidor. Nas horas vagas pinta, desenha e ainda produz figurinos como os dos espetáculos Contrapontos e Moinho Nômade, do Coro Juvenil do Moinho-UCS. Abaixo, confira o nosso bate-papo e conheça um pouco mais sobre ela.
João Pulita: Como olha o vestir das pessoas?
Julia Webber: Me chama atenção o que elas querem comunicar, como elas se deixam levar por símbolos de aceitação comum. Ou, também, quando acham que vão quebrar um padrão, incorporam o mainstream, como seguem o que a sociedade dita ou como elas vão contra isso por meio do vestuário.
O que te move enquanto criadora?
Tudo tem um por quê. Por que fazer uma roupa? Já tem tanta coisa... Tem que contar uma história, tocar a pessoa. Ninguém precisa de mais um produto, precisamos de outras coisas.
Moda pra quê?
No Brasil, a moda gera 1,5 milhões de empregos diretos e 8 milhões de empregos indiretos. Quando se fala em mudar o mundo por meio da moda é também por isso. 75% da mão de obra da moda é de mulheres que podem trabalhar em casa, com seus filhos. Moda é para ser questionadora, para encontrar ideias estéticas novas para o mundo, mas, principalmente, de maneira produtiva e social. A moda é um setor que se acostumou com a obsolescência em seis meses. Se acostumou a pensar no novo o tempo todo. Precisamos disso mais do que nunca.
Como se chega ao novo? Aliás, o que é novo?
Para se chegar a algo novo necessitamos nos despir dos nossos moralismos, temos que estar nos questionando o tempo todo. O novo ainda está para surgir, tem a ver com essa procura pelo biodegradável, pela redução de resíduos. Ainda estamos inventando isso com ética e de forma holística.
Quais são teus valores éticos e estéticos como criadora?
Busco criações de formas de viver o mundo na moda e na arte. Gosto do orgânico, do irregular. Hoje não crio apenas vestuário. Crio formas de trazer soluções para empresas que faço consultoria, e nesse sentido, meu maior valor é o acesso a comunicação, buscar uma linguagem que qualquer pessoa entenda os mecanismos de mercado e comportamento.
O que é bonito?
É aquilo que afeta, como uma forma positiva, desestabilizadora, que encanta. Bonito é respeito.
O que é feio?
É a desvalorização, o descaso, a exploração. E é muito fácil da exploração acontecer em plataformas de arte e de moda. A exploração da matéria prima, da terra, dos animais. Feio é a falta de essência, fazer só pela aparência.
Como estabelecer diálogos para criar?
O exercício da empatia é o mais importante. Lugares, pessoas e referências que promovam isso são essenciais. O Nordeste em geral promove. Moda aproxima a arte da vida: a gente nasce envolto em tecido, vive envolto em tecido, morre envolto em tecido.
O que teu olhar procura na deriva do mundo?
Procura alguma poesia, procura beleza, algo ligado ao sublime, sem ignorar a podridão. Às vezes meu foco vai para o detalhe de um sol numa pétala de flor, um cheiro de café: diz fique aí. Vale a pena ficar aí.
Três referências estéticas:
:: Tropicália
:: Alexander McQueen
:: Stella McCartney