Tenho me deparado, ao longo da vida, com pessoas dotadas de louvável sensibilidade. São o sal da terra em uma época tomada pelo narcisismo. O respiro necessário para irmos em frente imbuídos de esperança. Olho para elas e lhes destino minha admiração. Os filósofos estoicos ensinaram a buscar um modelo de ser humano e admirar seu exemplo de retidão e conduta ética. Provavelmente nunca alcançaremos o ideal preconizado, mas tê-lo como referência mostra como é possível alçar-se além de si mesmo. Esse é o trabalho a ser realizado: ultrapassar certos limites em prol de maior elevação espiritual. Refletir para ver o que nos move e se realmente vale a pena. Estamos sendo dominados pelo ego? Almejamos incessantemente o poder? Perguntas a serem feitas repetidamente até nos depararmos com um sólido projeto pautado pela correção moral. Distraídos e mergulhados no supérfluo, abraçamos propósitos destituídos de mérito.
Com o passar do tempo, elegemos algumas prioridades. A raiva já não contamina as ações, pois aprendemos a relevar certos comportamentos alheios. Ver com menos severidade o outro é entendê-lo em suas motivações particulares, nem sempre coincidindo com as nossas. Ouça atentamente, afastando-se dos julgamentos. Erramos na certeza de estar agindo da melhor maneira possível. É preciso a maturidade instalar-se dentro de nós para dispormo-nos a reiterados exames de consciência, revendo o que norteia a existência. Aos poucos, com considerável esforço, percebemos a inutilidade dos confrontos, deixando-os de lado em prol da paz interior. Um nobre bem a ser almejado.
Muitas vezes me questionei: haverá um sentido oculto na realidade? Passei a acreditar que ele se esgota em cada ato, na potência dos encontros e na capacidade de seguir aprendendo, visando diminuir o mar da ignorância. Tudo o mais é “a voz do silêncio”, e temos de calar ao constatar os mistérios do universo. A grande viagem a que me proponho é a de investigar como estou agindo - se de acordo com meus princípios ou tão somente ansiando por aprovação.
Fico atento no que se passa ao meu redor. Realizo uma leitura isenta de paixão e compreendo um pouco melhor as razões dos demais. O envelhecimento deve nos aproximar da sabedoria. Caso contrário, a alma também começará a enrugar. Evito adotar certezas. Prefiro permanecer repleto de dúvidas. Dedico-me à leitura, como se cada página fosse uma espécie de evangelho a ser aprendido. “Converso” com os livros que descansam placidamente nas estantes da minha biblioteca. Suas vozes me alcançam, mesmo separadas por uma distância de séculos. São mestres magníficos aos quais devo a compreensão negada nas platitudes cotidianas.
Colho os frutos da terra e a beleza do mundo. Encanto-me, pois estou em contato com seres que me ensinam a arte de viver.