Você nem percebe quando o esgotamento vai chegando. Normalmente ele é sorrateiro. Os primeiros avisos são mentais. Logo em seguida, o corpo lhe diz com clareza: já basta! Depois, é o curto-circuito. Apesar disso, quase ninguém fica atento a esses sinais inequívocos que recebe. A ordem é esticar a corda um pouco mais. No excesso de trabalho, em relações desgastadas ou mesmo nestas miudezas cotidianas com as quais nem costumamos nos preocupar. Ao seu redor, quantas pessoas já devem ter mostrado o quão exaustas estão! Em alguns casos, seguem assim por medo de perder o emprego, desagradar alguém próximo, mudar, enfim. Em nenhuma outra época da história nos surpreendemos tão aflitos. Para cada ganho, várias perdas. Férias parecem uma sucessão de obrigações para se divertir. Como cansa descansar! É preciso aproveitar tudo, como numa espécie de gincana em que o objetivo é obter o primeiro lugar. Por gentileza, não me convidem para relaxar em praia lotada ou em festas com música estridente. E, já vou me defendendo: nem é sintoma da idade, pois sempre preferi a quietude, os grupos menores, a fala em tom baixo.
Foi um longo processo até abolir a culpa pelos momentos de prazer em simplesmente existir. Criado sob a doutrina do catolicismo, incutiram em mim o valor máximo a ser alcançado: labutar de sol a sol. Essa era a máxima ouvida desde criança: você será respeitado pelo que produz. O ócio equivale a um defeito de caráter. O mérito é ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Recordo de muitas conversas da minha infância. A definição de honestidade estava inequivocamente atrelada ao fato de cumprir todas as tarefas a nós destinadas. Perdoavam-se vícios, certa violência emocional ou escapadelas no casamento, desde que os envolvidos provessem o sustento familiar. É passado, mas ainda estamos impregnados por esse ideal de labor e progresso. As exigências se tornaram de outra ordem, embora lá no fundo continuemos reagindo como nossos ancestrais. Experimente permanecer parado, sem se envolver com absolutamente nada, durante uma tarde. Difícil demais. Ou meditar, se ainda falta treino para amar o silêncio — exterior e interior.
Tenho sentido renovado gosto pelo relaxamento físico e mental. Esvaziar-me de palavras e tensões acumuladas. Hoje abdico de determinadas posses em detrimento dessa liberdade de me apropriar das manhãs, o período do dia em que escolho o que fazer. Acredite: somos todos substituíveis e saber disso pode trazer um alívio imenso. Realizo do melhor jeito as atividades a mim destinadas, porém, com a clara consciência de ser uma peça numa engrenagem bem maior. Gosto de olhar o céu à noite, ler poemas, deitar na grama, brincar com os cães. Sinto-me rico angariando esse patrimônio imaterial. Ver o mundo como as crianças — esse tem sido o meu propósito.
Os mestres estoicos são meus guias. Ensinam-me a ganhar a vida sem grandes desperdícios. O saldo na conta existencial é generoso. Contabilizo na alma juros e dividendos.
Desculpem, agora preciso parar para ver as cores do sol poente.