Em conversa com uma amiga, diretora de escola, aprendo sobre o modo dos adolescentes se relacionarem nestes tempos voláteis e incertos. Disse-me ela: “Até há alguns anos, uma das tarefas a que os educadores se dedicavam, era a de separar os casais, pois viviam em perpétuo impulso de intimidade física. Hoje acontece exatamente o contrário: empenham suas forças em tentar uni-los novamente.” Vejam só! Afeiçoados a criar falsos vínculos pelas redes sociais e aplicativos, demonstram escassa atração em olhar para quem está ao seu lado, tornando-os inaptos aos encontros. Infelizmente, não veem nisso um problema. Sentem-se bem satisfeitos com essa forma de contato.
Tentemos ver aspectos positivos nessa situação, sem ser ranzinzas. Para os tímidos, revelar interesse valendo-se desse tipo de recurso parece ser um alívio. Entretanto, na maioria das vezes, acaba sendo insatisfatório logo depois. Além disso, muitos mostram-se contentes em experimentar a sua sexualidade latente assistindo a filmes eróticos. Lembro-me de um comentário: “É cansativo pra caramba passar pelo processo da conquista.” Leia-se: optam pelo caminho mais fácil. Porém, sabe-se, quase nunca é o melhor.
Nem tudo são espinhos, apesar da ausência do toque epidérmico. A novíssima geração é admiravelmente livre na manifestação dos seus desejos. As tribos são múltiplas, dando-lhes uma perspectiva ampla de todas as expressões de amor e sexo. Estão menos preocupados em banir de seu universo de aceitação quem professa um propósito diferente de amar. Considero esse ganho inestimável. Pense em quantas pessoas sucumbiram às rejeições, podendo até desistir de seguirem em frente. Vale lembrar: o suicídio entre jovens é alarmante. Por ser proibida qualquer notificação, raramente tomamos conhecimento. A conclusão é óbvia. Antes ajustar uma coisa aqui, outra ali, a retroceder a um período de interdições e rigidez moral. Mas devemos ter em mente que, ao recusar as experiências de aproximação física, mergulham num processo de isolamento. É uma idade de absoluta gregariedade, em que buscam no outro a afirmação da identidade própria. Indago-me se no futuro acharão seu lugar na arena amorosa e sexual. A se ver. Por enquanto, é preciso estar atento aos sinais emitidos por eles.
O importante é evitar atribuir-lhes culpa pela situação, pois recebem inúmeros estímulos para permanecerem mergulhados no mundo virtual. A recompensa vem através do aumento de dopamina no cérebro, viciando como se fosse uma droga. A maneira correta de lidar com isso é colocando-se à disposição para ouvi-los, não como alguém querendo ensinar algo, e sim disponibilizando-se para o diálogo despido de preconceitos. Cada época se sustenta criticando os códigos comportamentais da anterior. Embora nada nos garanta que a geração anterior foi feliz de verdade.
É difícil romper a solidão nesta faixa etária e abraçar o outro. Estejamos aptos a exercitar a tolerância, aproximando-nos deles com mais perguntas do que respostas.