Sim, é uma receita infalível, como já sabido. Basta observar o que acontece no início de um namoro. Se um age de maneira blasé, deixa de responder alguma mensagem, demonstrando pouco seus sentimentos, a chance de ganhar a partida aumenta. Na juventude, tive mais frustrações do que sucessos nas investidas do gênero. Se gostasse, eu expressava. Inúmeras vezes. Deviam achar uma chatice, pois sempre acabava sendo preterido. Ainda hoje, agora com os meus amigos, jamais me furto de falar o quão importantes são. E abraço, e os cubro com palavras de afeto. A eles dedico uma fidelidade canina. Tem funcionado bem. Porém, se por acaso precisasse buscar um novo relacionamento, fracassaria na certa. Evitando as generalizações, pode-se dizer: uns dez por cento se interessam por quem é só love. Será uma condição genética herdada de nossos ancestrais? Com qual objetivo? Difícil afirmar. Fiquei mais velho e, com sinceridade, acho cansativo simular um teatro para esconder as reais emoções. Meu talento é escasso nesta área. Prefiro apostar na honestidade.
Tais estratégias são previamente calculadas pela parte envolvida em “prender” a criatura amada. Como as estatísticas reforçam a probabilidade de vitória, o mundo vai girando e os mais aptos neste jogo ganham o troféu. Mas, pense comigo: é um exercício bem cansativo. Você deseja ardentemente, porém faz cara de paisagem. Rói as unhas de ansiedade e segue com certa indiferença. Após terminado o flerte, já devidamente casados, essa tática desaparece. É possível seguir outro caminho, deixando uma pitada (só uma) de insegurança. Sem despertar um ciúme paralisante — este eu coloco entre as patologias graves. No extremo, é um horror. Exemplifico: um amigo se encantou por uma menina para lá de possessiva. Nem tomar banho sozinho podia. Ela queria estar com ele dia e noite. Resultado: separaram-se em três meses. Uma eternidade, no meu entendimento. Às vezes a lucidez vai embora com o início da paixão.
Existirá um meio termo para garantir a sobrevivência da fascinação, antes, durante e depois, sem se valer desse estratagema? Uma maneira saudável é a de se manter a admiração viva. Assim, temeremos perder quem significa tanto em nossa vida. Porém, na realidade, isso raramente se verifica. Compromissos de trabalho, problemas financeiros, filhos e mil obrigações de toda ordem... A lista é imensa. Como sou do time que insiste até procurar algo positivo em quase tudo, sempre descubro uma possibilidade de ajuste. A dinâmica dos encontros pode ser simples — nós a complicamos com exigências absurdas. Simplifique, exponha-se valendo-se da sinceridade. É uma boa opção, ao invés de investir tanto tempo e energia em negar o motivo da sua felicidade.
Confesso ter certa curiosidade com tal prática. Não trará benefício pessoal, pois estou entregue à tranquilidade de uma boa e longeva relação. Só quero entender um pouco melhor o amor e seus derivados.