Acho curioso, para me valer de uma palavra branda, esbarrar em um contingente tão grande de seres que se autoelogiam. São encantados por si mesmos. Não esperam ser parabenizados por uma ideia ou ação praticada, preferem se adiantar, tornando-se uma referência inquestionável. No entanto, como disse o escritor argentino Jorge Luis Borges, “Só os erros nos pertencem”. Somos seus filhos tardios, e nossa incumbência é limá-los até se transformarem em uma lembrança distante. Veja, se alguém precisa alimentar o ego nos dizendo o quão incrível é, provavelmente está sendo vítima de disfarçado complexo de inferioridade. Expressam-se de tal modo para reforçar uma qualidade ausente, inventando-a. Prefiro as manifestações de terceiros e sem a necessidade de serem ditas a toda hora. Constranjo-me diante de quem ressalta atributos pessoais em excesso. O mérito deve andar de braços dados com a modéstia, ignorando o desejo de ser protagonista.
Ao longo da vida deparei-me com homens e mulheres inseguros, apresentando-se detentores de virtudes imaginárias. Adiantavam-se em busca de uma afirmação que, se permanecesse discreta, geraria maior credibilidade. Davam um passo à frente, sabendo estar correndo o risco de cansar o interlocutor.
A propósito, recordo de uma categoria com conduta peculiar, digamos: a dos seres que incorporam a fala de outrem, impedindo sua manifestação no tempo e no contexto corretos. É assim: “Sicrano disse que eu sou maravilhoso”. Ou, no limite, como ouvi estes dias: “Todos me querem”. Chato isso, né? Talvez se possa considerar o fato de nem se darem conta desse exagero. Você e eu também temos alguma dose de vaidade, ela só não pode ocupar tanto espaço na ordem dos relacionamentos. Um colega disse, para minha surpresa, ficar bem à vontade ao receber críticas. Nunca as entende como sendo ofensivas, mas uma rica possibilidade de reavaliar suas posturas e melhorá-las. Bonito isso. Agora, para chegar a tal evolução, é vital ter se observado longamente antes.
Devemos buscar o meio-termo. Palavras lisonjeiras em demasia dirigidas a si podem enfraquecer o processo de evolução interior. Se nos cremos tão incríveis, para que se burilar, tentando encontrar nossa melhor versão? Já estamos no topo, é só aproveitar. A verdade é essa: o trabalho continua existência afora, sem interrupção, pois a alma tende ao acomodamento. Costumo alertar os meus amigos: por gentileza, avisem se eu estiver ficando exibido. No mar do conhecimento, sei apenas o equivalente a um grão de areia, uma gota. Nada.
Cá entre nós, já vivemos numa época em que tantos parecem ter um espelho acoplado à mão, voltado para seu rosto. Olham-se em estado de puro encantamento. Aos poucos, isso os paralisa, incapacitando-os de reconhecer características negativas.
Então, vamos combinar: deixemos aos outros a tarefa de evidenciar eventuais créditos a nosso respeito.
De quem se crê o máximo, o mundo já está repleto.