Você crê ser livre por poder optar entre uma quantidade imensa de ofertas – de ordem material, sexual e afetiva. Para os antigos pensadores, sobretudo os estoicos, nada mais enganoso. A isso chamavam de escravidão emocional. Eles entendiam que, quando precisamos satisfazer nossos desejos através de um objeto exterior, estabelecemos um vínculo de dependência para encontrar a saciedade. O que conta realmente pertence à categoria do privado, do íntimo. As conexões mais verdadeiras são acordadas de dentro para fora. E, se temos a necessidade da aceitação do outro, criamos uma dependência que vai se retroalimentando. Ou seja, perdemos todo o controle quando somos afetados pelas paixões. É árduo olhar para as inúmeras possibilidades externas e reconhecê-las como armadilhas a impedir o refinamento do espírito. Qual a alternativa diante de tal constatação? Comprometer-se com vontade, despendendo energia na aquisição de sabedoria e crescimento pessoal.
O caminho para detectar as falhas presentes durante o processo de aprimoramento individual demanda determinação e o firme intento de se afastar dos falsos modelos de sucesso, baseados em dinheiro e poder. Desviar-se dessa traiçoeira rota vale a pena, pois assim alcançaremos o paradigma grego da ataraxia, traduzida como um estado de imperturbabilidade interior. E, convenhamos, poucos de nós têm se sentido assim ultimamente. Difícil achar quem não tenha o hábito de reclamar. Talvez por estarem realizando investimentos equivocados. E muitos se afastam desse ideal por que ele exige tempo e uma severa disciplina. Nada é fácil quando buscamos um projeto superior. É primordial ler muito, observar comportamentos, analisar como agimos. Mas, infelizmente, a maioria se deixa levar pelo senso comum. Empenhemo-nos em obter algum grau de elevação através dos ensinamentos legados por mestres que dedicaram sua vida para atingir tal condição. Assim será possível transformar princípios filosóficos em atitudes. Trabalho para toda uma existência.
O poeta Mario Quintana disse: “Amar é mudar a alma de casa.” Há beleza e lirismo no verso. Mas, pondere comigo, deixar de pertencer a si mesmo é criar uma dependência que nos fragiliza. O apaixonamento sempre esteve relacionado à patologia. Enamorar-se é um propósito magnífico, se soubermos (e conseguirmos) permanecer independentes em nossas escolhas. No entanto, isto raramente acontece ao se fazer uma entrega dessa ordem. Viver experiências que nos impulsionam para fora de nós é saudável e construtivo. Porém, atente: ao abrir uma porta, tenha a certeza de conseguir fechá-la novamente.
Cuide para manter a tranquilidade, seu bem mais precioso. O excesso nunca nos conduz à paz interior. Nem a privação. As melhores coisas são obtidas ao encontrar o equilíbrio entre estas duas forças.