“A elegância é a arte de não se fazer notar aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir”, disse o poeta francês Paul Valéry. Penso nesta frase ao refletir sobre alguns comportamentos que venho testemunhando. Pessoas deixando de respeitar o silêncio do outro, invadindo tudo com suas intermináveis opiniões. Como é agradável deparar-se com alguém discreto, aproximando-se de nós mansamente, sem nenhuma estridência! É apaziguante e instaura o desejo de estar ao seu lado por longo tempo. Ao contrário, se somos atropelados por quem pretende apenas se sobressair a qualquer custo, provoca um cansaço antecipado, pois o exibicionismo é a vertente mais vistosa da falta de educação. A desculpa que dão para tal atitude? Ocupar o seu espaço no mundo, caso contrário o farão em seu lugar. Está longe de ser verdade. Recordamos de quem opta pela suavidade como um modo de ser. O que berra costuma ser incômodo. Os bem-nascidos (sem relação com posição social ou conta bancária) entregam primeiro o seu sorriso, perguntam como estamos e só depois relatam algo de si. Quando o fazem.
Pode-se, com algum esforço, aceitar certos “ruídos” em adolescentes, pois eles só se definem em relação ao seu grupo e a discrição representa a morte do reconhecimento por parte de seus pares. O estranho é que, ao eleger a originalidade como um valor máximo, agem em conjunto de maneira rigorosamente igual. Uma amostra disso poderá ser vista em qualquer loja de conveniência perto da sua casa. É uma constatação ranzinza? Vou concordar, com algumas ressalvas, no entanto. Acho bonito baixar o tom de voz por simplesmente não querer ter os holofotes incidindo sobre si mesmo. Anonimato, eis aqui uma palavra em franco desuso. Talvez porque nos acostumamos a capitalizar as ações, transformando a nós mesmos em produtos rentáveis. Vide o Instagram, por exemplo. Exibir-se em demasia é cafona, para ressuscitar um termo que gosto de usar. A tentação é grande, mas aprender a fugir desses estereótipos impostos pela cultura do momento é louvável.
E, convenhamos, dá para ser percebido em qualquer situação: basta seguirmos com passos leves, sem atropelar ninguém. Mas como alcançar este propósito, em meio a um mar de estímulos incitando a nos colocar à frente? Boas leituras, encontros com quem se porta sobriamente, cultivo do bom gosto. Este último, aliás, pode e deve ser discutido. Somos o resultado das interações feitas no correr da vida. Nada é fortuito, mas uma lenta construção que se materializa na convivência com os demais.
Observe e copie bons exemplos. Aprendemos na prática, sem manual algum. Acrescente ao pacote uma boa dose de senso de humor e correrá o risco de ser admirado pelo que realmente é. Uma distinção nesta nossa época um tanto artificial.
Chegue na hora certa e saia um pouco antes do final. Conjugue todos os pronomes pessoais mas, com menos insistência, o eu. Por fim, exagere nos agradecimentos. Você terá dado o primeiro passo rumo à elegância.