Você seleciona as pessoas com as quais convive? Presta atenção em seus comportamentos? Particularmente, estou cada vez mais inclinado a examinar com cuidado as minhas amizades. E por uma nobre razão: elas determinam, de maneira que nem sempre conseguimos avaliar, a forma como vemos a realidade – suas opiniões afetam as nossas. Tudo isso acontece lentamente e com graus de sutileza despercebida.
Seria interessante se você começasse hoje, agora, a ser criterioso neste aspecto. E para esta palavra não ter uma conotação elitista, posso assegurar: ela faz parte da existência dos seres preocupados em expandir a consciência. Se observarmos com profundidade as companhias que nos circundam, poderemos extrair um conceito preciso de nós. Já pensou nisso? O cérebro é esponjoso e absorve o modus operandi do que se repete no cotidiano. Ao nos cercarmos por quem nos estimula a beber e fumar, por exemplo, aumentará exponencialmente a inclinação para aderirmos a esses vícios. As virtudes também serão “copiadas”.
Muitas das escolhas decorrem do desejo de nos espelharmos em quem admiramos. Ideias e hábitos não nascem do acaso, há influências externas agindo sobre eles. É vital colocar uma lupa para verificar o que nos pertence e o quanto de empréstimo escondido há. O ambiente que frequentamos tem uma capacidade avassaladora de moldar a nossa visão de mundo.
Recordo do meu período de estudos na escola de filosofia Nova Acrópole. Uma das proposições submetidas à análise era essa: somos o resultado das interações estabelecidas. Nada é inócuo, mesmo uma conversa descompromissada pode alterar algum sistema de valores. Não pense ser fácil fazer esse julgamento e rechaçar ou incorporar o que beneficia o crescimento interior. Família, parentes e colegas de trabalho imprimem marcas em nós. Mas, atente: é possível fazer um Raio-X emocional e analisar o mérito de nos aproximarmos ou afastarmos de determinadas companhias.
Já me libertei de inúmeros conflitos após receber conselhos de alguém mais sábio do que eu. Aproveito para extrair o melhor dos encontros, até se estamos falando de platitudes. Se nos vigiamos com tal propósito, aos poucos essa apuração se dará com naturalidade, quase sem notar. Aprendi a manter os olhos abertos. Em alguns casos, retiro-me com delicadeza, se constato estar perdendo tempo precioso com criaturas demasiadamente autorreferentes. Chamo isso de egoísmo saudável, uma espécie de escudo protetor.
Que fique clara a responsabilidade individual neste processo. Faça um escrutínio dos estímulos positivos e negativos recebidos. Vigie a si e aos demais. E alegre-se se os outros agem de maneira igual com você. Eles estão provocando o aprimoramento do seu caráter. Examine quem está lhe procurando. Cada um terá, sem o saber, uma importância imensa na construção de sua personalidade.
E, fácil, fácil, eu te direi quem és.