Esta frase sempre me pareceu duvidosa e evito proferi-la. Quando alguém se vale dela é porque está ensaiando dizer algo além da fronteira do tolerado socialmente. Refiro-me à delicadeza que tem de estar presente em todo relacionamento, seja de ordem coletiva ou mais íntima. Se fôssemos nos exprimir no limite da autenticidade, provavelmente teríamos raros amigos. Com a família, vamos convir, ultrapassamos o permitido e os estragos são múltiplos. É preciso polimento para não ferir suscetibilidades. Contornar aqui e ali momentos desagradáveis, através de gestos sutis e palavras idem. Você já deve ter ouvido a famosa sentença: “Cheguei a tal idade e agora me dou o direito de falar o que desejo.” Errado. Considerando a maturidade como uma aliada para despertar o bom senso, somos convidados a ponderar sobre as afirmações utilizadas, vendo os demais como seres propensos a se magoar tanto quanto nós. Independe da faixa etária, pois estamos nos referindo à sensibilidade.
Tenho trilhado o caminho contrário. Cuido com redobrado zelo ao tratar de um assunto espinhoso, por exemplo. Contorno com suavidade até focar no ponto nevrálgico. Procedendo assim, creio estar respeitando os limites do outro. Nada conhecemos acerca das emoções alheias. Um trauma do passado pode engatar em um diálogo recente e desencadear lembranças dolorosas. Então, vou tateando até descobrir o próximo passo a ser dado. Demorei décadas para entender essa verdade. É melhor nos contermos a agir com impulsividade. No fundo, é uma questão de ego. Algo nos incomoda e sentimo-nos incapazes de resolver a situação dialogando conosco. Viramos pura exterioridade em busca da certeza de estarmos com a razão. Sou avesso à ideia de qualquer agressão verbal, principalmente se ela vem envolta em boas intenções. Convenhamos, normalmente nos preocupamos em expulsar o que estacionou na mente e insiste em permanecer ali.
Tenho a impressão de que o contato entre as pessoas era mais elegante em tempos idos. Havia um limite a se respeitar, sob o risco de romper com relações consideradas caras. Talvez por se usar uma linguagem mais polida. Digo isso sem saudosismo. Mas fico constrangido ao testemunhar o diálogo de grupos de adolescentes, por exemplo. Eles destroem o idioma, criando uma espécie de linguagem feita praticamente de monossílabos, de grunhidos. Bem, deixa para lá, pode soar como um discurso preconceituoso.
Meu propósito é cuidar cada vez mais com o que digo. Este intento, antes de tudo, me beneficia. Arrependi-me diversas ocasiões por ter sido incapaz de ficar calado em determinadas circunstâncias. Aliás, como é admirável silenciar, observando antes de emitir juízos de valor. Pouco sabemos. Encerrados em nosso eu, mal damos conta das emoções que nos habitam. Alcançar um estranho em suas peculiaridades é quase impossível. A expressão “pé ante pé” é uma boa analogia para colocar em prática determinadas condutas. Sejamos prudentes para não contaminar a vida com excesso de sinceridade. Faz mal, inclusive, para a saúde.