Um dos assuntos mais difíceis de se tratar é o da infidelidade. Espécie de tabu, costuma ser vivido silenciosamente, cercado de medo e da sensação de culpa. É assim em quase todas as sociedades. As mulheres são as que sofrem as piores sanções. Segundo uma reportagem, no Império Bizantino eram vendidas nas praças. Na Europa medieval tinham o rosto desfigurado, o nariz cortado, olhos e lábios arrancados. Hoje, em certas regiões da África, são castradas e seu útero retirado. Inacreditável! Raramente houve punição aos homens: eram vistos como potentes e viris, recebendo olhares de cumplicidade (e de admiração) de seus pares. Nunca houve igualdade neste quesito. Não pretendo fazer a defesa dessa vivência, mas simplesmente analisar sem uma conotação moralista algo tão presente no relacionamento de tantos casais. Sabemos da impossibilidade de encarcerar o desejo. A religião e a vigilância social e política tentam, mas o máximo que conseguem é projetar algumas sombras sobre essa verdade. A passagem dos anos ao lado de uma mesma pessoa tende a arrefecer o prazer sexual, mesmo com a permanência do carinho e do apreço. Com sorte, é possível transformar a paixão (e o amor) em uma bela amizade. É fato inconteste e evitemos lamentar essa transição.
Recentemente, porém, famosos começaram a se pronunciar sobre o tema. Confessam já terem traído e sido traídos. Aliás, acho essa palavra plena de sentido negativo. Talvez pudéssemos falar em experiência extraconjugal. Não quero aqui amenizar a repercussão e a dor provocadas em quem passa por isso. Mas ignorar o fato de acontecer com tantos está longe de representar uma solução. Elas estão saindo do papel de vilãs (ou de vítimas) para serem protagonistas. O impacto é enorme para quem se sente “trocado”, expressão carregada de angústia e consequente insegurança. Muito advém dos valores culturais inculcados em nós desde a infância. Somos treinados a aceitar ou rechaçar determinados comportamentos. Por estarmos imersos num tempo em que a liberdade adquire contornos de direito, agora também para elas, tão sufocadas na manifestação de seu erotismo - discorrer sobre isso em público tornou-se recorrente. Ressalte-se: o Brasil é o terceiro país em número de inscritos no maior site do mundo que estimula essas “escapadas”, sendo sessenta por cento do universo feminino. A se pensar.
Situações como as descritas sempre surgirão. Muda é a maneira de encará-las. É inevitável causarem desconforto, tristeza e angústia. No entanto, faz parte do itinerário humano buscar pelo novo. Felizes das pessoas que acordam pela manhã com a certeza de terem encontrado alguém com o qual manter-se fiel física e emocionalmente não significa esforço adicional. Mas deve-se louvar essa nova atitude de coragem, alcançando a paridade em um jogo até então com a vitória previamente estabelecida a favor deles.