Tenho imensa dificuldade em conviver com pessoas arrogantes. Aquelas que costumam nos atropelar com suas certezas absolutas. Considero-as perigosas, pois é improvável demovê-las do direito de se impor, em geral ao custo de humilhações alheias. Conheci diversas ao longo da vida e de todas me afastei. Sinto-me interiormente contaminado e evito como posso reagir, pois provocam em mim uma sensação de impotência. E em diversos momentos, de desolação. Ah, como seria salutar manter-me indiferente, mas ainda não alcancei tal grau de sabedoria. Fico desconfortável, olhando com uma mescla de compaixão e tristeza. Deveria perceber que estão longe de ser felizes, pois andam “armadas”, prontas para o ataque. E parecem dizer: “Curve-se à minha vontade, pois estou sempre correto”. Hoje elas parecem proliferar aos borbotões, impondo regras. Talvez consequência da expansão de suas ideias no mundo virtual. Alguém já disse que antes os prepotentes encontravam eco entre os amigos próximos, numa roda de bar. Hoje pretendem educar o resto da humanidade. Passaram a ser mestres, quando não pretensos especialistas.
O antídoto para isso? Inocular em si grandes doses de humildade. É um exercício de elegância, tornando-nos aptos a reconhecer algo antes impensável: os inúmeros erros cometidos. Leio com renovado interesse os ensinamentos budistas. E busco pô-los em prática. Eles nos mostram a volatilidade da existência e a percepção do quanto o universo está interligado, em total dependência. E aí está o grande problema a envolver essas criaturas que tentam pairar sobre as demais. Gravitam numa espécie de bolha e contemplam o mundo alguns metros acima dos mortais comuns. Por vezes gostaria de poder mergulhar em seus cérebros para entender esse mecanismo tão nocivo. A estratégia é esquivar-me de contrapor com palavras ou gestos de indelicadeza seus discursos narcísicos, pois sei o quão pouco reverberariam dentro deles. Em suas mentes devem imaginar: você tem a função de me servir, desista de questionar.
Haverá cura? Para ser sincero, encontrei raros arrependidos de tal comportamento. Observei mudanças a partir da experiência de uma tragédia familiar. Mas é preciso persistência, caso contrário pode potencializar o que já era condenável. Tento, na medida do possível, assegurar distância e estabelecer vínculos com quem se coloca numa posição de aprendizagem. Propenso a ouvir o outro, a considerar opiniões opostas. Creio ser uma conduta que me conduzirá por uma senda de valores sólidos. Falta-me serenidade para uma relação tranquila com quem se impõe agressivamente. A passagem do tempo nos mostra o quão necessário é estar consciente do ínfimo lugar ocupado pelos humanos, reconhecendo o valor de acolher e ser receptivo. Estamos destinados a ser somente uma peça na engrenagem cósmica. Do pó ao pó. Terão presente essa verdade?