Gilmar Marcílio
Lembro de ter reagido com louvável sensibilidade a uma situação que talvez se encaminhasse para um desfecho menos feliz. Faz alguns anos, mas continua reverberando em mim. Diante de decisões difíceis, recorro a soluções próximas a esta. Trabalhava na época com um rapaz longe de corresponder ao ideal. O óbvio era repetido várias vezes e o resultado deixava a desejar, mesmo assim. E como nem sempre encontramos dentro de nós uma reserva de paciência, esquecia de respirar fundo e colocar em prática a tolerância necessária para uma convivência harmoniosa. Pois as semanas iam se arrastando e nada do guri apresentar uma evolução profissional. Por ele transbordar simpatia, fui postergando a decisão de substituí-lo. De repente, tive um desses insights luminosos. Resolvi sentar e fazer o que raramente estamos dispostos: conversar, buscando um entendimento. Queria esclarecer as reais motivações de seu comportamento tão falho. Agi da maneira certa. Estimulado pela disponibilidade da minha escuta, disse-me ter sido acometido por uma série de doenças emocionais e mesmo por fobias graves, impossibilitando-o de interagir socialmente. Depois de muita terapia e intervenção medicamentosa, passou a sentir menos medo e conseguiu estabelecer relações mais saudáveis, afastando o temor da rejeição.
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