Gilmar Marcílio
Estranhei quando uma amiga gravou um áudio dizendo: “Vou ser breve para você não acelerar a minha conversa.” Fiquei sem entender. Para mim, até então, só existia a possibilidade de ouvi-la normalmente, como se deve fazer na vida real. Fui em busca de informações e soube ser possível comprimir as falas recebidas pelo whats. Em um primeiro momento achei chocante, sinal inequívoco de estarmos sem paciência para dedicar alguns minutos aos que desejam estabelecer um diálogo conosco. Esse pensamento ainda me habita, mas, com o passar dos dias, comecei a analisar a questão sob outros aspectos. Voltarei a eles em seguida. Antes, ficarei na incômoda sensação provocada. Penso nessas sutilezas, pequenos indícios que evidenciam a nossa ansiedade: merecem receber uma atenção especial. Tudo precisa ser rápido e diverso. Filme de duas horas parece uma eternidade. Ouvimos músicas aleatoriamente, ao invés de um álbum inteiro. Com isso, resta a certeza de o espaço da imaginação ter encolhido, sendo substituído pelas imagens. É fato inconteste. Esses meus resmungos terão escassa força para alterar o ritmo trepidante do mundo e possivelmente causarão espanto a poucos. O incômodo é meu, embora me perceba menos irritado com a ascensão vertiginosa do universo virtual. Aprendi a fazer minhas escolhas e continuar me relacionando de um jeito que considero saudável.
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