Estranhei quando uma amiga gravou um áudio dizendo: “Vou ser breve para você não acelerar a minha conversa.” Fiquei sem entender. Para mim, até então, só existia a possibilidade de ouvi-la normalmente, como se deve fazer na vida real. Fui em busca de informações e soube ser possível comprimir as falas recebidas pelo whats. Em um primeiro momento achei chocante, sinal inequívoco de estarmos sem paciência para dedicar alguns minutos aos que desejam estabelecer um diálogo conosco. Esse pensamento ainda me habita, mas, com o passar dos dias, comecei a analisar a questão sob outros aspectos. Voltarei a eles em seguida. Antes, ficarei na incômoda sensação provocada. Penso nessas sutilezas, pequenos indícios que evidenciam a nossa ansiedade: merecem receber uma atenção especial. Tudo precisa ser rápido e diverso. Filme de duas horas parece uma eternidade. Ouvimos músicas aleatoriamente, ao invés de um álbum inteiro. Com isso, resta a certeza de o espaço da imaginação ter encolhido, sendo substituído pelas imagens. É fato inconteste. Esses meus resmungos terão escassa força para alterar o ritmo trepidante do mundo e possivelmente causarão espanto a poucos. O incômodo é meu, embora me perceba menos irritado com a ascensão vertiginosa do universo virtual. Aprendi a fazer minhas escolhas e continuar me relacionando de um jeito que considero saudável.
Permitam-me dizer agora como mudei de ideia em relação à possibilidade de transformar um recado em algo sucinto. Na hora eu esqueci dos chatos, essa praga a infestar nossos dias. Sabe aquelas pessoas que desconhecem o significado das palavras resumo, síntese? Ao lembrar-me delas dei graças a Deus por essa invenção. Muitas falam tanto, mas tanto, e sobre assuntos absolutamente irrelevantes. Gravam verdadeiros podcasts. É uma vingança para lá de boa podermos nós mesmos dar uma reduzida no blábláblá. Com quem pratica o bom senso, escuto atentamente. Raramente altero a velocidade, pois tenho o privilégio de contar com a afeição de um grande número de seres cuja fala me interessa absorver na íntegra. É um prazer debruçar-me sobre cada frase dita. Mas me divirto quando sei que vem pela frente um monólogo sem fim e, ufa, não preciso perder esse tempo. Fiz poucas vezes, é verdade. Porém, saber da existência desse recurso é uma maravilha. Contenham-se, no entanto, os já viciados e incapazes de resistir à ideia de utilizá-lo compulsivamente.
Um pouco de calma é sempre bem-vinda. Refreie este ímpeto, destinando-o somente aos que jamais irão se flagrar de como são inconvenientes. No mais, é seguir a vida passo a passo, pois aqui, do lado de fora, não foi inventado nada (por enquanto), que nos permita enxugar os excessos. Com elegância filosófica disse o escritor Baltasar Gracián: “Melhor intenso do que extenso.”