Gilmar Marcílio
Se os tempos são sombrios, há mais razões ainda para se falar de amor. Mergulhados numa espécie de senso comum nos direcionando a absorver uma realidade contaminada pela dor e a morte, esquecemos da persistência marcante dos bons sentimentos. Empenhemos todas as forças para nutrir o que nos devolve a possibilidade de seguir em frente criando, rindo, semeando contentamento. Estamos provisoriamente paralisados diante desse drama. A melancolia se alonga, alimentando o trágico. Passamos a ver apenas o que nos rouba as claras manhãs de alegria. Agregado a isso, pode-se dizer: épocas narcísicas quanto a nossa estão longe de criar o cenário ideal para a proliferação de afetos envoltos em generosidade. O Eu passou a ter primazia absoluta, ator principal de um monólogo flertando claramente com a patologia. No entanto, há sempre alguma fresta por onde nos esgueirar em busca de ar e luz. Cada um deve criar dentro de si um código de sobrevivência. Testemunhar a guerra não significa render-se a ela.
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