O vencedor da eleição para a prefeitura de Caxias do Sul foi Adiló Didomenico (PSDB), reconduzido para mais quatro anos à frente do governo municipal. Há lições para o vencedor também. Será recomendável a Adiló e à aliança, até para realizar um bom governo e fazer as entregas que a população anseia, entender por que venceram. A vitória veio com a ajuda central de uma circunstância política, que imprimiu à disputa um componente ideológico que foi preponderante e decidiu a eleição.
O ex-candidato Maurício Scalco (PL) tinha razão, quando dizia na campanha: a maioria do eleitorado caxiense queria mudança. O atual governo, na verdade, contou com um reconhecimento expresso, que foi minoritário, de 24,8% do total de votantes em primeiro turno. Os outros 75% queriam de fato mudança, e Adiló acabou vencendo mais para que a aliança de direita fosse barrada na pretensão de chegar à prefeitura. Como ocorreu com a eleição estadual ao Piratini em 2022. É recomendável o prefeito reeleito Adiló, portanto, dar-se conta dessa evidência retirada dos números da eleição e caprichar na entrega, pois 75% dos eleitores que foram às urnas em primeiro turno não escolheram o governo.
Para a aliança de direita, o ensinamento central é que tratar uma eleição municipal, ou qualquer eleição, sob a ótica preponderante do prisma ideológico é um equívoco. Ideologia tem lugar e não é pecado, expressa visões de mundo, que devem ter lugar no debate político. Porém, não deve ofuscar o debate das questões que interessam a população nem fechar caminhos. Na eleição caxiense, a candidata a vice-prefeita disse que a direita não podia buscar os votos da candidata de esquerda. Foi um equívoco grosseiro. Porém, ela não falou o que falou de graça, mas amparada pela constituição de uma “frente anti-PT”. Qualquer “frente anti” está completamente divorciada do propósito da política e da democracia, que é conversar com os diferentes e construir consensos. Conversar apenas com quem fala a mesma língua não serve para nada.
A eleição deste ano foi generosa em ensinamentos. Nas próximas notas, uma reflexão sobre lições a partidos importantes que não chegaram ao segundo turno. Resta às legendas o exercício da humildade para recebê-las e entendê-las.
Scalco identificou armadilha
O ex-candidato Maurício Scalco (PL) já identificou essa armadilha da preponderância do discurso ideológico. Tem dado pistas em seus discursos pós-eleição de que “Caxias é maior do que ideologias”. Vai na contramão do entendimento que está impregnado na aliança de direita em Caxias, que tem aí uma diferença interna que está se abrindo para resolver. A coluna anotou o que chamou de “pistas de Scalco” sobre essa reflexão eleitoral. Scalco repostou a nota da coluna. Aliás, ele já foi claro o suficiente ao dizer que “Caxias é maior do que ideologias”.
PSB cometeu erro estratégico
O PSB poderia estar contabilizando resultado eleitoral mais expressivo. O partido apostou na eleição para a Câmara, em oferecer uma nominata qualificada de candidatos, mas acabou reduzindo a bancada atual, de três vereadores para duas cadeiras na próxima legislatura. O partido cometeu o erro estratégico de não apostar na eleição majoritária, e tinha quadro para isso, com o ex-vice-prefeito Elói Frizzo. Poderia até ter candidato próprio, o que daria outro peso político à sigla. Outro equívoco foi perder muito tempo e não adotar uma posição para o primeiro turno.
MDB decide muito tarde
Ao MDB, a eleição deixa um ensinamento claro, e que não é de agora. O partido decide muito tarde. Oficializou a candidatura de Felipe Gremelmaier para prefeito em junho. A essa altura, praticamente todas as parcerias já estavam encaminhadas, e o tempo para dar visibilidade a uma alternativa do partido à prefeitura era mínimo. O MDB acertou em buscar um nome novo. Em algum momento, precisava buscar esse caminho, e já o fez. É preciso renovar lideranças. Mas errou feio no “timming” estratégico para a campanha.
Sigla do PDT pouco apareceu
Se o MDB perdeu o “timming”, o PDT não perdeu tempo em sua decisão política de integrar aliança de centro-esquerda, uma decisão afinada com as raízes pedetista. A decisão e o “timming” dela foram adequados.
O PDT, no entanto, pecou por uma campanha tímida, cuja visibilidade centrou-se no candidato a vice Alceu Barbosa Velho. O símbolo e a bandeira do partido ficaram escondidos, o que cobrou preço na eleição à Câmara, com duas cadeiras. O partido podia mais.
PT não encontrou a fórmula
Ao PT, está faltando encontrar a fórmula de falar aos anseios da população. O partido recuou em número de votos. Pepe Vargas, em 2020, na eleição a prefeito, fez 75 mil votos em primeiro turno (34,1% dos votos válidos) e 92,7 mil no segundo turno (40,4% dos válidos). Já Luiz Inácio Lula da Silva fez 85,7 mil votos no primeiro turno (31,8% dos válidos) e 91,2 mil no segundo (33,6% dos válidos) em 2022.
Havia a expectativa de que Denise repetisse esses números, o que a colocaria no segundo turno, mas ficou abaixo: 61,6 mil votos, ou 26,3% dos válidos. A propaganda da coligação tem de surpreender, ser reconhecida de alguma forma, e não surpreendeu. Além da resistência política ao PT na cidade, o partido tem de acertar a mão na fórmula de se comunicar, superando um discurso que tem se repetido há anos.
É preciso ouvir a população
Por fim, a lição maior aos partidos está relacionada à abstenção estratosférica de 99 mil eleitores que deixaram de votar no segundo turno, ou 28% do eleitorado. O índice comprova que o eleitor está desencantado e desinteressado na política, e é preciso trazê-lo de volta. Se o eleitor tem responsabilidade, por escolher não votar, os partidos e instituições também têm. Reportagem na página 4 mostra, neste primeiro momento, que falta autocrítica dos partidos no diagnóstico e ao propor ações políticas para reduzir a abstenção. É preciso ouvir a população, atender seus anseios e superar o formato tradicional de fazer política. Os partidos caxienses não estão falando sobre isso.
Erros políticos e tatu na linha de frente
Politicamente, os diversos partidos, alianças e frentes tropeçaram na campanha. Tanto no detalhamento de propostas como no nível do enfrentamento, em especial entre os dois candidatos ao segundo turno. Deixou a desejar, sem aprofundar soluções para os temas da cidade, de interesse da população.
Já o marketing ofereceu a sacada da propaganda eleitoral, com o mascote e o jingle do prefeito-tatu, que humanizou a campanha, ofereceu a parte lúdica e alcançou crianças. O tatu esteve na linha de frente da campanha. Na foto, o “prefeito-tatu” com o tatu na bandeira.