Os discursos têm sido convergentes nestes dias de impacto direto das intensas chuvas que atingem o RS, a Serra Gaúcha e Caxias do Sul: a prioridade central segue sendo ao resgate das pessoas e à preservação de vidas. Nem pode ser diferente. Ao mesmo tempo, as consequências materiais da chuvarada sem fim são sentidas de forma direta nas estradas bloqueadas, no deslizamento de encostas, na rede de drenagem das cidades que não dá conta do volume de água, na iminência de rompimento ou extravasamento de barragens. São questões práticas que colocam vidas em risco e dificultam e atrasam socorros. Questões cruciais, portanto, que colocam desafios a governos e administrações.
A maioria das mortes havidas na Serra (28 até o domingo à noite, na última atualização) está relacionada a deslizamentos de encostas. Nesse ponto, há dois aspectos práticos. O primeiro diz respeito ao controle para evitar edificações em áreas de risco de deslizamento. É difícil o controle, mas precisa se estabelecer. O segundo ponto diz respeito aos alertas. Na quinta-feira (2/5), viu-se alertas inéditos, com sirenes e sistema de som em viaturas, para a saída de moradores de suas residências diante da iminência do rompimento de uma barragem do Complexo Dal Bó. Esses alertas com aviso aos moradores precisam se reproduzir também diante de temporais iminentes, em áreas onde o risco de deslizamentos está presente. São ações preventivas possíveis, com planejamento e mapeamento permanente de áreas de risco.
Outro eixo da preparação para evitar ou atenuar tragédias são investimentos, por exemplo, na contenção de encostas em rodovias e na rede e estrutura de drenagem dos municípios. A limpeza de bueiros é tarefa elementar que precisa ser cotidiana para as prefeituras, com parceria da população para não jogar lixo nas ruas, que depois entopem as redes. Cabe ainda a educação e consciência dos moradores para responder a alertas e orientações e uma estrutura de acolhimento para abrigá-los. E, quando uma rodovia cede ou desmorona, outros governos distantes ensinam que a agilidade na reconstrução da infraestrutura, até em poucas semanas ou dias, não está proibida.
Por fim, é importante uma equipe técnica capaz de identificar gargalos, lacunas, fragilidades, e de se antecipar a fenômenos climáticos. E, claro, tratar bem o meio ambiente. É pedir muito? Com planejamento, decisão política pelo investimento e educação ambiental, o milagre acontece, com vidas preservadas e menos prejuízo à economia.