A Serra precisa de uma resposta contundente para eliminar do ambiente regional os casos frequentes de condições de trabalho análogas à escravidão. Precisa ser desmontado o ambiente onde viceja esse tipo de prática, e se ele viceja, aqui e acolá, especialmente em atividades associadas a safras, é porque as condições estão dadas. Portanto, só há uma resposta regional a ser dada: o repúdio veemente à exploração dos trabalhadores associado ao reconhecimento de que, historicamente, não tem havido o controle eficaz, de que a responsabilização não tem sido contundente. Além disso, a Serra deve trabalhar uma resposta por meio de ações efetivas para abolir da região as condições de trabalho análogas à escravidão.
As diversas manifestações de lideranças regionais que têm vindo à tona após o caso em Bento não têm avançado de forma objetiva nessa direção. Nota do Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) fala em “episódio pontual”, que “não representa as práticas do setor”. O problema é que o fato está aí, com todos as suas consequências, que se alastram sobre uma cadeia produtiva relevante, a evidenciar que não houve o controle necessário. Todos perdem. A nota também vincula a situação flagrada à falta de mão de obra, detectando “parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista”.
A pergunta de um milhão de dólares é por que a atividade que gerou a contratação de trabalhadores nas condições flagradas não é atrativa aos trabalhadores regionais – lembrando que o Auxílio Brasil e agora o Bolsa Família pagam, na média e na maioria dos casos, R$ 600 por família. Uma nota maior, um manifesto da prefeitura de Bento com entidades do setor vinícola, empresariais e de turismo, é mais objetiva, indicando ações.
Já nesta terça-feira, entrevista do prefeito de Bento, Diogo Siqueira (PSDB), ao programa Atualidade faz um recuo e ressalta que “todos são vítimas”. Se não pode haver generalização, os envolvidos todos têm participação e precisam revisar suas práticas. Muito mais do que isso, todas as lideranças regionais e segmentos econômicos juntos precisam mobilizar-se em direção a outra cultura, outro ambiente que não permita condições para a prática do trabalho em condições análogas à escravidão na Serra Gaúcha. Isso se constrói no dia a dia, por meio de ações efetivas, permanentes, de valorização do trabalho e das pessoas.
A região precisa assumir a realidade e oferecer respostas lúcidas e objetivas.