A Seleção Brasileira tem colecionado insucessos. Desde 2006, cai nas quartas-de-final. Quando chegou à semifinal, caiu de 7. Quais os motivos? Há diversas razões, entre elas, a questão de fazer o time jogar. Pois há algum consenso de que a qualidade dos jogadores não é problema. Não é? Pelo menos é o que dizem nos programas esportivos dos canais de tevê especializados. Tem qualidade técnica, mas é bom ir com calma, muita calma. O ambiente do futebol nacional tende a superestimar jogadores e expectativas. Evidente que as causas se somam, mas aí, nessa superestimativa, já temos uma parcela da conta.
Se a qualidade dos jogadores, então, não responde pela maior fatia da explicação, fazer o time jogar é uma questão mais ampla, que envolve uma diversidade de aspectos. Entre eles, o comando, o treinador. Dunga, Parreira, Felipão e Tite não entusiasmaram, pelo viés do resultado. Tite entusiasmou, sim. Até demais. Empilhou vitórias, contra adversários fracos. Há seis anos, é incensado pela imprensa especializada do centro do país. Assim como Fernando Diniz, técnico do Flu. Há diferenças de tratamento que são escancaradas, mas não são lastreadas pela qualidade da entrega. De Tite, diz-se que é, disparado, o melhor técnico em atividade no Brasil. Porém, o desempenho da Seleção este ano foi pífio, salvou-se o primeiro tempo contra a fraca Coréia, teve empate e desclassificação nos pênaltis para a Croácia, que levou três ao natural da Argentina. E o que o tempo todo se disse dos jogadores foi uma enormidade, especialmente dos meninos do ataque, que se empilharam no grupo convocado. Mas quanta distância de nossas melhores referências técnicas de Mbappé e Messi, ou mesmo Modric!
Aliás, meninos... Idade não é atestado de nada no reino da qualidade, mas é um ingrediente que ajuda a compor um perfil de grupo. Um perfil, no conjunto, jovem demais, talvez, com mais tendência para se desviar do foco. Perfil de grupo, eis uma questão importante. Outro ponto: recorrentemente, os meninos são franzinos. Não tem, nos últimos tempos, nenhum jogador encorpado. De novo, tamanho não é atestado de nada no reino da qualidade. Mas é outro ingrediente que define um perfil de grupo. Então aí já são dois tópicos que não ajudam na imposição dentro de um jogo de Copa, diante das dificuldades. Falando em imposição, também não têm perfil de liderança esses que, ao que se diz, esbanjam qualidade. Falta perfil de liderança não só aos meninos do ataque, mas a quase todo o grupo. Faltam lideranças no grupo inteiro, ficam restritas apenas a Thiago Silva e, especialmente, Casemiro. Não pode ficar tudo na mão de Casemiro, que se sobressai em relação a Thiago Silva. Vão se somando os ingredientes a considerar, e vai ficando mais difícil a imposição diante das dificuldades, a capacidade de reação.
Em outros tempos... Lá vem de novo o colunista com as Copas e seleções de outros tempos. O que se há de fazer? São elementos objetivos. Quando se vislumbrava Rivelino, Gerson, Tostão, Pelé, Carlos Alberto, havia qualidade técnica e imposição. Já se impunham de saída ante o adversário. Ou quando se avistavam Zico, Sócrates, Falcão, Cerezzo e Júnior. Aliás, essa Seleção não ganhou Copa, mas se impunha. Os fatores são diversos. Houve outros. Ou ainda Quando lá vinham o Dunga jogador, Jorginho, Ricardo Rocha, Branco, Mauro Silva, Zinho, Taffarel. Ou em 2002, quando havia Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Rivaldo. Há grupos que ajudam a sobressair a qualidade dos Ronaldos, de Romário, Bebeto.
Perfil de grupo, lembrem disso. Ajuda a explicar muita coisa.
* Durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Catar, são 14 Copas.