A decisão do candidato a governador Eduardo Leite (PSDB), pela neutralidade em relação ao segundo turno da eleição presidencial entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), anunciada nesta sexta-feira, já era esperada. Ela foi guiada pelo estrito critério eleitoral, a contabilidade eleitoral que uma ou outra decisão diferente da neutralidade acarretaria em termos de perdas e ganhos, avaliação que o ex-governador tratou de ancorar politicamente, isto é, de justificar, enfatizando seu projeto político para o Estado e o argumento de buscar se afastar do ambiente de polarização para ser "um governador para todos". Vale considerar que o critério eleitoral é compreensível e legítimo, dentro de limites razoáveis.
– Não se trata de ficar em cima do muro, mas sim de não permitir que se erga um muro entre os gaúchos – disse Leite, que passa a adotar o slogan de campanha "O Rio Grande fala mais alto", com o foco no Estado, para se contrapor ao debate nacional.
Assim, Leite vai para o enfrentamento a Onyx Lorenzoni (PL), portanto, sem desagradar eleitores bolsonaristas que votaram nele, mas sem uma garantia mais explícita de que poderá contar com os 1,7 milhão de votos dos eleitores de Edegar Pretto (PT). Garantia completa não haveria, mesmo que uma aliança de segundo turno fosse firmada entre PSDB e PT, pois o eleitor e a eleitora decidem individualmente, mas a amarração dos votos dados a Edegar fica mais frágil a partir da escolha feita por Leite. Quanto isso representa em perdas e ganhos, essa matemática eleitoral é imprecisa. O tucano precisa descontar uma sonora diferença original, aquela atestada pela urna em primeiro turno, de cerca de 680 mil votos pró Onyx. É muito voto.
Leite foi surpreendido pelo resultado da apuração em primeiro turno. Quase saiu fora da disputa e ainda viu a distância para o primeiro colocado se tornar bastante elástica, situações que nenhuma pesquisa de sondagem de voto previu. Ainda por cima, o contexto eleitoral para o cenário nacional o embaraça bastante. Ele não esperava. Estava mais seguro em primeiro turno. Agora, está sentindo na pele como é difícil se reeleger no Rio Grande do Sul. Os gaúchos nunca, até hoje, reelegeram um governante.
O critério político acima de tudo
O critério político fala mais alto nas escolhas de Simone Tebet (MDB) e Tarso Genro (PT), ao anunciarem apoio, respectivamente, para os adversários políticos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Eduardo Leite (PSDB). Na avaliação de ambos, eles buscam manter distância do que consideram candidatos que não têm compromisso com a democracia. Ambos não são candidatos neste segundo turno, o que facilita uma tomada de decisão como a que anunciaram. A rigor, a valer a busca de uma frente ampla pelos petistas em nível nacional, o mesmo critério deveria funcionar no RS, independente ou não decisão de Leite. É o que defende Tarso.