Há os que entendem que não vale a pena se envolver com a eleição. Por isso não votam. Esse grupo, no primeiro turno, concentrou um exército de 20,95% do total de eleitores do país – ou 33,7 milhões. Um em cada cinco preferiu abrir mão da esperança e do direito de votar. Boa parte não vê sentido no voto. Na pesquisa divulgada para presidente, na quinta-feira (27/10), pelo Datafolha, apurou um percentual de 7% de indecisos. Esse índice se repetiu na pesquisa do Ipec divulgada no sábado (29/10) e se reduziu para 6% em nova sondagem Datafolha também no sábado. Esses dois grupos, mais exatamente, podem interferir na eleição. Porque, segundo a sondagem de quinta-feira do Datafolha, 92% dos eleitores dizem estar totalmente decididos sobre o voto.
Então essa é a margem. É assim que chegamos ao dia do voto, no cenário para a sucessão presidencial. A matemática mostra que a eleição não está decidida. Já a política evidencia uma reta final turbulenta, com uma sucessão de acontecimentos de peso político e eleitoral. Entre eles, o episódio das adolescentes venezuelanas, as ofensas do ex-deputado federal Roberto Jefferson à ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia e, logo na sequência, a reação do mesmo Jefferson ao cumprimento de uma ordem de prisão, quando disparou tiros e jogou granadas contra policiais federais. Por fim, a semana também teve a denúncia da campanha de Jair Bolsonaro de irregularidades e desigualdade na veiculação de inserções eleitorais em emissoras do Nordeste e, para encerrar, o episódio protagonizado pela deputada federal bolsonarista eleita, Carla Zambelli (PL), que saiu atrás de um homem negro empunhando uma arma na rua em São Paulo. São episódios retumbantes, capazes de provocar turbulência no cenário eleitoral. Já o ambiente pré-voto segue tenso e turbulento, como foi do início ao fim da campanha.
Para encerrar, é preciso considerar as repercussões do debate da Rede Globo entre os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta sexta-feira à noite, que não teve elementos capazes de produzir uma variação significativa no pensamento do eleitor indeciso ou que se absteve no primeiro turno. Por fim, é necessário levar em conta que acontecimentos e movimentos eleitorais costumam se precipitar nas últimas horas que antecedem um pleito, como foi o caso do episódio de Carla Zambelli – ainda mais nesta eleição para presidente. E ainda: embora as pesquisas tenham se sucedido na reta final, é importante lembrar que erraram em vários aspectos na eleição em primeiro turno.
Os movimentos ainda estão acontecendo, e assim será até o fechamento das urnas. É uma eleição que define um rumo para o país, um caminho a escolher na encruzilhada democrática. O cenário está posto. Agora é a hora do voto, e já restam poucas horas.