Há os bem-aventurados, aqueles que, por circunstância geográfica ou de trajetória pessoal, tenham ao alcance da mão, nas redondezas da casa onde moram, ou mais longe, em outro bairro da cidade, um amigo ou amiga de infância, do colégio, da juventude ou da universidade. Esses possuem um tesouro. Feita essa introdução, peço licença para invadir uma quarta-feira pré-eleitoral, início da temporada de convenções partidárias, com o singelo e deslocado tema da amizade, eis que estamos no Dia do Amigo.
Não tive a mesma sorte. As circunstâncias geográficas, aleatórias ou de trajetória pessoal não me favoreceram. Existem algumas sentenças no nascimento, uma delas a sentença geográfica, que não escolhemos. Vim ao mundo – e não reclamo, ao contrário – na longínqua Fronteira Oeste do Estado, terra de onde, na maioria dos casos e opções de vida, se terá que sair em busca de oportunidades. O novo mundo do tempo de universidade também não foi capaz de reter a trajetória pessoal, que foi em frente atrás de dias melhores – e quem sabe os dias melhores eram justo aqueles que ficaram para trás! E assim, aqueles amigos de outras épocas se perderam no tempo e no espaço. Os amigos vão se desgarrando pelo caminho. E não dão mais nenhuma notícia. Nem se sabe direito, apesar das facilidades das redes sociais, onde encontrá-los, e a logística para um encontro assim não é simples. Bem diferente de o amigo situar-se na mesma rua ou no bairro próximo. Mas, como disse, não fui um afortunado.
Haverá espaço para outros amigos que surgem pelo caminho, pode-se contrapor. Por certo, mas então já estamos no âmbito da circunstância da sobrevivência e do tempo escasso. E aqueles que hoje nos são mais próximos também estão todos comprometidos prioritariamente com a própria existência, fatores limitadores para incursões por amizades tão profundas como as que um dia experimentamos. Em relação a essas de antes, diante da ausência de notícias e de contatos, uma constatação se impõe: não fui um bom amigo! Deveras! A evidência eloquente é que não faço falta a eles. Esquecimento total. Devo ter sido inoportuno e impertinente, excessivo e demasiado, quem sabe até invasivo. Com frequência, lembro deles, mas eu tampouco os procuro, inclusive temendo uma indiferença ou causar algum incômodo no cotidiano.
O fato é que a distância se impôs, o ritmo de vida se impôs, e os amigos ficaram pelo caminho. Vida exigente. O percurso não foi como eu imaginava. Se este texto chegar a algum deles, peço uma segunda chance de aproximação, pelo menos um breve reconhecimento ao tempo compartilhado. Um reencontro seria quase um devaneio. Vamos cuidar mais de nós e dos que, em algum momento, foram importantes e essenciais. Certamente não fui um bom amigo, mas ainda há tempo. Prometo melhorar. Grandes amigos fazem uma falta danada!