Nos últimos 10 dias, a cidade perdeu duas adolescentes: uma de 16 anos, atropelada na Rua Jacob Luchesi, no bairro Santa Lúcia, ao descer de um ônibus, atingida por um carro dirigido por um motorista que fugiu, e outra de 14 anos, baleada em uma sucessão de mortes na Vila Leon.
Biatriz e Larissa eram seus nomes. Seus queridos, familiares e amigos ficaram chorando as perdas imensas e intensas. Restaram dois vazios na cidade. Biatriz voltava da escola quando foi atropelada. Larissa estava em uma residência quando foi atingida por tiros que tinham como alvo um familiar seu. Típica desavença que envolve facções e sobrou para ela, que perdeu a vida.
Quatro dias separaram uma morte e outra, que guardam entre elas essa relação da idade das vítimas. A cidade não pode perder adolescentes dessa forma. As mortes passaram com alguma comoção, especialmente de colegas, familiares e mais próximos, mas a vida seguiu. Acidentes de trânsito ocorrem a toda hora, ainda mais em cidades médias como Caxias, dirão alguns. Fatalidade, dirão outros. Mas não pode acontecer. Adolescentes cheias de energia, de vida, com sonhos ainda em brotação, um universo de possibilidades, duas vidas inteiras pela frente.
A cidade, os órgãos públicos, os administradores, os ocupantes de cargos públicos, das áreas técnica e política, os vereadores, os órgãos relacionados à proteção da infância e da adolescência não podem se conformar. Porque não é fatalidade, e para acidentes de trânsito existem causas bem definidas.
No caso da Jacob Luchesi, ali é uma pista de corrida, ainda por cima bastante movimentada, depois que foi asfaltada, em meio a uma alta circulação de pedestres.
Faixas de segurança não adiantam aqui em Caxias, é sabido. Há quem torça o nariz para lombadas físicas ou eletrônicas no trânsito, mas se os motoristas matam e fogem, tal obstáculo passa a ser quase uma imposição, a ser cogitada pela área técnica, para evitar outras mortes como a de Biatriz. Já as desavenças e confrontos entre facções em disputa pelo controle de pontos de tráfico colocam uma série de desafios à sociedade, dos quais ela, por seus órgãos públicos, instituições, ONGs, entidades e lideranças, não pode fugir. As duas mortes, uma em cada ponta da cidade, em regiões diametralmente opostas, como se uma lança entrasse em um lado da cidade e saísse no outro, passaram sem referência na Câmara, sem iniciativas ou referências dos administradores. Justiça se faça à Polícia Civil, que nessa sexta-feira elucidou a apuração sobre o autor do atropelamento.
As vidas de Biatriz e Larissa não voltam. Mas outras vidas de adolescentes podem e precisam ser protegidas e salvas. A cidade – todos nós, cada um de nós – não pode se conformar. Mas não dá importância, como se fosse impotente. E não é.