Gosto de matemática. Sempre tive inclinação. Tanto assim que me formei em Engenharia Civil antes de enveredar pelo jornalismo. No meu caso, primeiro vieram os números. Depois, as palavras. Mas ia dizendo, gosto de matemática. Nesta seara, o que tive mais dificuldades foi com os logaritmos. Eram fantasmas a rondar os bancos escolares, quando ainda não se imaginava que o primo-irmão deles, o algoritmo, é que ficaria famoso. À época, algoritmo era um anônimo qualquer, hoje brilha nas passarelas digitais.
A dificuldade toda com os logaritmos, no meu caso, foi porque tratou-se do único conteúdo de matemática que não aprendi na escola pública no Ensino Médio, antigo 2º grau. Não deu tempo, e a vida seguiu em frente. Parêntesis para ressaltar do orgulho de ter cumprido toda minha trajetória em escolas públicas estaduais. Podem, sim, oferecer a formação adequada. Os tempos é que são outros, de menos valorização à educação. E fui em frente na universidade, também pública. Orgulho e responsabilidade.
Voltando aos logaritmos, restou-me aprender sobre eles no cursinho pré-vestibular, e depois reforcei nas disciplinas de Cálculo na Engenharia. Aquilo era de tontear. O logaritmo de um número é o expoente a que uma base deve ser elevada para produzir aquele número. O logaritmo de mil na base 10 é 3, porque 10 ao cubo é mil. Simples, não é?
Fiz essa homenagem aos logaritmos para falar de algoritmos, e de Marte. Porque os algoritmos nos afastam do desconhecido, um pecado mortal. Sim, os algoritmos são inocentes. O propósito deles é facilitar, tornar a vida mais prática. Acabam sendo um tanto massacrantes aqueles anúncios que saltam à nossa frente nas páginas da internet, mas a intenção é oferecer atalhos úteis.
Se fôssemos nos guiar exclusivamente pelos algoritmos, a vida se fecharia, com foco restrito. E a vida é tão ampla e intrincada, tem toda a face oculta, o lado desconhecido. E o desconhecido é fascinante. Como Marte, agora, desvendado aos poucos pelo rover Perseverance e o engenhoso helicóptero Ingenuity. Uma façanha da humanidade, que, no entanto, ainda tropeça no coronavírus.
Eu sei, há contradições aparentemente insuperáveis: todo investimento para chegar em Marte com o coronavírus ainda não domesticado e a fome à solta no planeta. O mais razoável seria a ordem natural das prioridades. Mas o desconhecido deve nos fascinar. Nada contra os algoritmos, mas não podemos apagar essa chama, essa curiosidade pelo desconhecido. E aproveitando a oportunidade, fica a justa homenagem à matemática e aos logaritmos. Sem eles, provavelmente, nunca se chegaria a Marte.