Que tal, meu amigos!? A satisfação de estar novamente por estas bandas, a traçar linhas que os façam ter pelo degas aqui algum tipo de reação - exceto a indiferença - acaricia minha'lma de modo inenarrável. Sobretudo também porque chego para substituir, por algumas semanas apenas, o camisa dez das letras, meu amigo Ciro Fabres.
Isto posto, e confabulando cá com meus atualizados e cozidos miolos, na última vez que estive por aqui, escrevi ininterruptas trezentas crônicas, de 2009 à 2014, sem jamais ter sido “cancelado”. Fato esse que me fez chegar num mote pertinente para essa minha reestreia: o que de mais significativo mudou no mundo de 2014 para 2021, a mercê, óbvio, do meu olhar?
Sem titubear, cinjo-me a mais ambígua e periclitante das mudanças: o robustecimento das redes sociais, tornando-as terra de ninguém, “democráticas em excesso”, ao dar voz à fauna humana, em todas as suas "espécies". Das mais distintas às mais imbecis. Minhas crônicas de outrora seriam canceladas se as publicasse hoje. A espontaneidade daquele Dudu há de se reinventar, por força de um mundo que se tornou “mimizento” ao extremo, um verdadeiro tribunal de inquisição. Sendo esse o maior ônus de tal advento, a consolidação de uma das mais perigosas condições humanas: o maldito julgamento!
Deus parece ter se multiplicado. Incorporou em muita gente, que sem saber sequer a marca do calçado que a gente pisa, num piscar de olhos, nos julga com a contundência de um estabanado ministro do STF. E como a possível vacilada alheia da sempre mais ibope do que um reles acerto, os canceladores de plantão não tem qualquer tipo de pudor para decretar uma sentença definitiva acerca do outro. Ainda que tenham o telhado de vidro, não pensam duas vezes para emitir um juízo. Ter opinião, hoje, e trazê-la para o bom debate, tornou-se mais perigoso do que cruzar a faixa de Gaza.
O problema dos super poderosos julgadores - normalmente coadjuvantes a atirar pedras em protagonistas -, não são apenas suas próprias imbecilidades, mas a quantidade deles. São muito mais do que imaginamos, e sempre existiram, só que agora com o “poder” de jogar no ventilador seus mais desacertados e injustos julgamentos.
Não sei onde isso vai parar. Estamos vivendo num terreno minado, em que uma opinião, equivocada ou não, é capaz de desconstruir uma história de vida inteira. Parece que não interessa mais o que realmente queremos dizer, mas sim o que o outro quer entender.
Veja bem: não estou sugerindo que não reajamos ante a qualquer tipo de posicionamento preconceituoso, por exemplo. Isso certamente há de ser combatido. Refiro-me à questões cotidianas, menores, que dependendo do humor do receptor da mensagem - juiz mor a dizer como devemos viver -, torna-se um estopim de guerra. Isso na real tá um porre. Cruel. Não confundam por favor esse meu discurso com a necessária crítica construtiva. Refiro-me aos lacradores às avessas. Senhores do tribunal das redes, mais poderosos que Deus, que intimidam desde resenhas de bar à teses de mestrado, desrespeitando assim nossa elementar condição de enxergarmos o mundo com nossas próprias lentes, sem sermos necessariamente julgados por tal.
“Quando João me fala de Pedro, sei mais de João do que de Pedro".