Como se organizam os mecanismos mentais que levam pessoas – e particularmente jovens – a realizar uma festa com 200 participantes em espaço confinado no momento mais crítico da pandemia? Vale a mesma pergunta para qualquer pessoa que se atira na cerca elétrica e vai ao encontro de aglomerações diversas. Exemplos não faltam. Por onde transita o pensamento? Eis uma questão interessante para a ciência. O raciocínio percorre – em alguns casos, não percorre – mecanismos e labirintos mentais que desembocam em fazer uma festa em condições de aglomeração extrema, que vai intensificar o contágio, o risco pessoal e às pessoas do grupo, aos familiares e mais queridos. Risco de vidas perdidas. E mesmo assim, ao fim do percurso, o raciocínio faz destravar o gatilho da decisão de participar da festa.
Em outros tempos, em outros cenários políticos e culturais, juventude estava associada à rebeldia, a confrontar a ordem estabelecida. Agora o confronto é à lógica dos fenômenos e da matemática. Porque quanto mais gente próxima uma da outra, mais pontes para o fenômeno físico da transmissão, do contágio, até chegar aos mais queridos, aqueles a quem, teoricamente, se quer proteger. Já a lógica matemática cutucada com vara curta é a da multiplicação. Mesmo assim, o raciocínio percorre os mecanismos mentais e insiste em desembocar nessa lógica insana.
Questão para a neurociência, ou que pode se resolver a partir da especulação no campo das ciências humanas. Há uma série de hipóteses. Uma delas é ideológica, isto é, o raciocínio é organizado a partir de alguma reflexão, incluída a negacionista, para justificar a prática. Outro argumento popular é o do “cansaço da pandemia”, como se isso desse o direito. Claro que há o cansaço, mas deve ser administrado da melhor forma por casa um.
Há ainda os chamados “sem noção”. Como, porém, é impossível não ter noção de consequência na pandemia, pode-se falar dos “desligados da noção”, os que se “desligam” da percepção da gravidade da consequência. São os que vão na onda. Há os que não se importam com o outro, entendido como todo aquele que não faz parte do grupo mais próximo. São tão numerosos que fortalecem uma cultura – a do outro importa pouco – que é alicerçada também em fundamentos como o econômico, da luta pela sobrevivência, e a não valorização da educação. E ainda há os indiferentes e os de coração duro. Entre outros.
O que é inseparável do jovem, o que distingue um espírito jovem são a generosidade, os horizontes, os ideais largos, que obrigatoriamente incluem os outros, entrar na luta para melhorar a realidade. Era assim, pelo menos. São outros mecanismos mentais possíveis, mas simplesmente ignorados, deixados de lado. Que tal experimentar?
Que tempos!