Nos acostumamos a ver o monumento Jesus Terceiro Milênio às escuras, ou na mais pálida penumbra. Um desperdício. Uma pena. É melancólico. O Cristo, como é popularmente chamado o monumento, é um dos lugares mais conhecidos de Caxias do Sul. Acrescente-se ainda, é uma atração praticamente inacessível. Do jeito em que a cidade habitualmente o deixa, o relega, nossos cartões postais ficam apagados, escondidos, sufocados. A Casa de Pedra, perto do Cristo, fica apagada também.
Poucos dias atrás, estabeleceu-se a discussão sobre as luzes que se apagam cedo nos pavilhões da Festa da Uva. Sendo mais exato, se apagam em todo o parque, inibindo e desestimulando caminhadas e o aproveitamento de espaços públicos pela população. Um dos argumentos da empresa Festa da Uva, que administra o espaço, foi a famosa “ponta do lápis”, e também a sustentabilidade. A “ponta do lápis”, no entanto, deve estar submetida à visão estratégica de cidade. O que queremos de uma cidade? Como é a cidade que queremos? Queremos uma cidade com espaços onde as pessoas possam se encontrar, conviver, desfrutar de momentos de lazer até um pouco mais tarde, e não precisa avançar demasiado no horário? Ou queremos uma cidade onde se economiza cada centavo? É uma questão inicial, anterior. Quanto à sustentabilidade, lazer e qualidade de vida estão entre os propósitos a serem atendidos pela vida urbana, onde se gasta luz, e então o gasto com iluminação pública está no âmbito do que é exigido pela vida em sociedade. Sem desperdícios, logicamente. Mas qualificar os espaços de convivência é tarefa que deve estar contemplada em uma visão estratégica de cidade. Uma cidade convida à convivência, à qualidade de vida, ao encontro de seus moradores. Ou não. Caxias do Sul responde com um indiferente e sonoro não.
Sobre os cartões postais, ou endereços que dão visibilidade à identidade histórica de uma cidade, de uma região, eles deveriam, por lógica e por valorização da cultura, da identidade, do turismo, ser bem cuidados, indicados, valorizados. Gasta-se, talvez, um pouco mais com iluminação pública, mas o retorno, sob diversas formas, é indesmentível. A Réplica deveria ser iluminada, e bem iluminada. O Cristo, a Casa de Pedra, a casinha da Eberle. Que seja até um determinado horário, mas esse conceito de valorização da cultura, da identidade, de oferecer atrativo o ano todo a moradores e visitantes, deve estar contemplado na visão estratégica de cidade. Não muito longe daqui, a 40 quilômetros, em Garibaldi há o roteiro Passadas, que valoriza o casario histórico história da cidade e dá visibilidade a esses endereços.
Que cidade queremos, afinal?