Na era da economia da atenção, infelizmente se tornou comum polemizar em rede social para engajar seguidores. Às vezes, a polêmica vem envolta numa camada espessa de burrice, de arrogância e de uma visão limitadíssima da realidade. Foi o caso de um executivo, ex-CEO de uma escola de negócios, que entre outras bobagens disse que o cargo de presidente de uma empresa é incompatível com o papel de esposa e de mãe.
Segundo ele, um homem jamais deveria se casar com uma CEO porque toda mulher que cresce profissionalmente acaba se “masculinizando” e não investe sua “energia feminina” no lar, o que prejudica a família.
Essa amostra de ignorância e de pouca capacidade cognitiva e argumentativa do rapaz já começa aqui: por acaso homens prejudicam suas famílias quando crescem profissionalmente? Se tornam pais menos amorosos e menos dedicados? Toda generalização é de uma estupidez imensa, mas ao tentar separar arbitrariamente os papeis de homens e de mulheres, esse cara tentou estabelecer como opostas coisas que não são.
É perfeitamente possível ser um bom pai e uma boa mãe ao mesmo tempo em que administra uma empresa com competência ou atua no alto escalão corporativo. Se alguém não consegue equilibrar uma vida profissional bem-sucedida com uma vida pessoal bem-sucedida, talvez seja uma questão individual, mas jamais será uma lei, uma regra ou uma sina.
É extremamente limitada essa visão de mundo que condena o caminho para o sucesso financeiro e profissional como algo incompatível com uma vida feliz em família. Aliás, o próprio conceito de sucesso há muitos anos tem sido questionado, alterado, multiplicado e diversificado conforme a vivência e a pluralidade dos sonhos e das ambições de cada ser humano.
Portanto, é equivocado afirmar que para ter sucesso na carreira uma pessoa precisa necessariamente ser menos presente na sua casa e ter menos participação na criação dos filhos. Minhas duas avós, Adelina e Irma, foram as primeiras “CEOs” que conheci na vida e eram mães incríveis e avós amorosas e presentes, ao mesmo tempo em que tocavam seus pequenos negócios e garantiam o sustento de suas famílias e de seus muitos filhos.
Se esse executivo incompetente (sim, incompetente) não consegue ter energia para trabalhar em alto nível e, ao mesmo tempo, se dedicar à sua família e ao seu lar, que não venha me dizer que as mulheres não conseguem. Sinceramente ando exausta desse papinho de “masculinização” e de “energia masculina x energia feminina”. A mulher no mercado de trabalho nunca foi o problema: o problema é uma sociedade que tenta colocar como excludentes coisas que não são.
O mais impressionante é que uma figura dessas tenha se tornado relevante no setor de educação para executivos. Isso explica muita coisa. Ainda bem que algumas empresas e institutos que contratavam os serviços dele já se deram conta da cilada de aliar sua marca a um boçal desses. Não há mais espaço para generalizações estúpidas e preconceito disfarçado de opinião.