Às vezes morro de vergonha alheia quando alguém se propõe a opinar sem qualquer critério sobre um assunto sério como a educação. Desde que começaram as negociações da Universidade de Caxias do Sul para vender ou ceder o Campus 8 para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já li muita groselha por aí.
Na ânsia de militar ou vomitar virtude, muitos militantes e formadores de opinião parecem ignorar por completo as demandas reais e urgentes da sociedade para as próximas décadas. Por isso, vou deixar aqui minha humilde e ponderada sugestão do que pode ser feito com a instalação de um campus da UFRGS para atender Caxias e toda a Serra gaúcha com educação pública de qualidade.
Primeiro, o necessário contexto: daqui uma década, haverá profissões bem-remuneradas e prestigiadas que sequer existem hoje em dia. Isso é um fato. Aliás, algumas profissões que já existem hoje são tão inovadoras que as empresas estão tendo extrema dificuldade de encontrar profissionais para preencher certos cargos. Por que isso ocorre?
Porque duas décadas atrás as universidades infelizmente não se prepararam para pesquisar, criar laboratórios e cursos que estivessem alinhados com os processos disruptivos e com as inovações que estavam acontecendo fora da academia e dentro das empresas.
Felizmente, hoje institutos de inovação e parcerias público-privadas (como é o caso do Instituto Caldeira, em Porto Alegre, e do Instituto Hélic, em Caxias do Sul) juntamente com entidades associativas vêm promovendo seminários e congressos para entender e fazer o meio de campo entre o que já existe e o que vem por aí, entre o que já se aplica e o que está sendo estudado e testado.
Há muita gente que sabe quais profissionais estão em falta no mercado e quais carreiras trarão melhores oportunidades aos jovens que hoje estão no Ensino Médio. E sabem também o mais preocupante: muitas profissões simplesmente se tornarão ultrapassadas, obsoletas e inúteis num futuro próximo. Por que então jogar os jovens em cursos que não farão o menor sentido quando finalmente receberem seu diploma de ensino superior?
Fala-se muito sobre uma suposta cláusula de “não-competição” com a UCS, mas se a UFRGS fizer o que realmente precisa ser feito para desenvolver nossa região, competir está fora de cogitação. O caminho deveria ser “criar”, “colaborar” e “complementar”, ou seja, não tem nada a ver com competir por alunos. A chegada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul aqui é a chance de oferecer cursos já pensando na Serra gaúcha de 2035 em diante.
Há demandas que para mim são óbvias. Cursos como Ciências Climáticas e desdobramentos da novíssima área de Inteligência Artificial são demandas urgentes. Ninguém precisa de mais um curso voltado a uma carreira com mercado saturado. A sociedade precisa dar chance hoje para que os jovens conquistem um diploma que, verdadeiramente, será garantia de empregabilidade e renda no futuro. E isso passa pela educação com inovação em todos os sentidos.